No dia em que completou 1 ano de minha apresentação de trabalho no I Fórum de Estudantes de Ciências Sociais em São Miguel do Guamá, eu apresentei mais um trabalho agora no II Fórum em Igarapé Açu.
Esse trabalho foi fruto da disciplina Formação Social e Econômica da Amazônia, com a Profa Katiane Silva, que muito maravilhosa passou esse trabalho de conclusão da disciplina. Ficou guardado o texto e agora surgiu a oportunidade de apresentá-lo! Só clicar aqui nesse link e acessá-lo.
É um artigo pequeno, tem 8 laudas, mas que gostei muito de escrever por mostrar as farsas que há séculos são passadas ao povo pra nos manter sob domínio e servindo aos interesses da classe burguesa, além dessa possibilidade de estudar vários temas, produzir, isso me deixa muito animada!
Muito obrigada à organização do II Fórum de CS, momento muito especial, de resistência negra estudantil, de importante articulação frente ao desmonte da nossa profissão e exclusão da população pobre e negra dos espaços de conhecimento, além de escancarar a precariedade do ensino publico superior no Estado do Pará!
Que venha o III Fórum em Marabá!
sábado, 14 de dezembro de 2019
quarta-feira, 6 de novembro de 2019
Imunda
Preta
Imunda
Só presta a bunda
Mas nem bunda essa tem!
É só imunda
O que tocas é sujo
Mas é de uso
E abuso
A buceta que fede
Só pra meter serve
Pra beijar só fina flor
De cor cálida, rosada
De menina depilada
Preta
Teu tambor é imundo
Sujo pela história
Do racismo e preconceito
Que insiste em sua glória
Tua cor é que diz
O lugar que tu mereces
De indigna, suja, subalterna
Devassa, piranha
Depravada...
Não me serve!
Ainda bem, pois desse verme
Só enxergo a ignorância
Morra com seu nojo!
Sai daqui com teu achismo!
Pois a preta só quer do lado
Quem luta contra o machismo
Não aguento mais racismo
Nem tanta humilhação
As pretas nesse corre
Querem só libertação!
Imunda
Só presta a bunda
Mas nem bunda essa tem!
É só imunda
O que tocas é sujo
Mas é de uso
E abuso
A buceta que fede
Só pra meter serve
Pra beijar só fina flor
De cor cálida, rosada
De menina depilada
Preta
Teu tambor é imundo
Sujo pela história
Do racismo e preconceito
Que insiste em sua glória
Tua cor é que diz
O lugar que tu mereces
De indigna, suja, subalterna
Devassa, piranha
Depravada...
Não me serve!
Ainda bem, pois desse verme
Só enxergo a ignorância
Morra com seu nojo!
Sai daqui com teu achismo!
Pois a preta só quer do lado
Quem luta contra o machismo
Não aguento mais racismo
Nem tanta humilhação
As pretas nesse corre
Querem só libertação!
segunda-feira, 16 de setembro de 2019
Recitando minha dor - ENECS 2019
Tive a felicidade de receber a carta de aceite de dois artigos que submeti para apresentar em novembro de 2019 no XXXIII ENECS - Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais - João Pessoa-PB, no GT 15: Pessoas negras em diáspora: processos de vivências como (re)existências na contemporaneidade brasileira.
O primeiro, com título "A desvalorização continuada da natureza feminina negra e a necessidade de enegrecer o feminismo" já postado aqui no blog, mas ainda não havia submetido para evento ou publicação, segue a versão completa submetida ao ENECS.
O segundo estou como co-autora da talentosa jovem Agatha Sou, artista e estudante de Ciências Sociais da UEPA. Muito obrigada pela oportunidade, está sendo uma ótima experiência de escrita em dupla!!! Parabéns pra nós! Agora bora dar o jeito de chegar na Paraíba! haha!
Esse texto também submetemos para publicação na revista Feminist Press, num edital muito firme sobre solidão da mulher negra, buscando relatos e produção de negras brasileiras. Tomara que seja aprovado também!
Segue então essa versão mais enxuta que enviamos para a revista e o trabalho completo que vamos apresentar no ENECS. Boa leitura!
Agatha Souza da Costa (1)
Ana Carla Tavares Franco (2)
RESUMO
O racismo, mitos e esteriótipos que caracterizam a natureza feminina negra, que tem suas raízes na mitologia anti-mulher oriunda do período escravagista, impactam a vida social e afetiva das mulheres negras. Na adolescência, etapa da vida de muitos conflitos com a estética, aceitação, auto-estima e afetividade, as jovens negras começam a experimentar o ônus da continuada desvalorização de seus corpos e identidades, se vendo muitas vezes como subalternizadas nos relacionamentos afetivos. Para não se ver sozinha, envolve-se em relações abusivas, violentas, restando como alternativa a solidão, abrir mão de sua vida sexual e afetiva em troca de não sofrer mais decepções, abusos ou até escapar da morte. Neste sentido, baseado em leituras do feminismo negro, o presente texto aborda a experiência com a poesia e o hip-hop da jovem negra amazônica periférica, Agatha Sou, em Belém-PA, como vetor de suas dores e angústias, assim como resistência e enfrentamento a esse processo de solidão e estigmatização de seu corpo e natureza, estimulando e acolhendo mulheres negras que passam por esses sofrimentos.
Palavras-chave: solidão, racismo, poesia, hip-hop, feminismo negro.
O VALOR DA MULHER NEGRA
A sociedade brasileira foi constituída culturalmente no período da colonização/escravatura sob a influência da sociedade europeia patriarcal, que desde sempre mantém as mulheres como submissas e subalternas. Essa relação de poder se acentua com as mulheres negras, que eram vistas como mercadorias, sendo mais cruel sua condição de expropriação.
O peso da desvalorização continuada das mulheres negras se arrasta até a atualidade e alcança ponto crítico no período da adolescência e juventude, em que desperta para a vida afetiva. As jovens negras, vistas como objetos sexuais, se vêem muitas vezes como segunda opção em relacionamentos, experimentando a exclusão, a solidão, sem consciência exata dos fatores que as empurram para esta condição.
Restando poucas opções, a mulher negra acaba envolvida em relacionamentos na condição de amante, objeto sexual, relacionamento subalterno, abusivo, violento, tendo como alternativa a solidão, abrir mão de sua vida sexual e afetiva em troca de não sofrer mais humilhações, abusos ou até escapar da morte. O mapa da violência no Brasil, elaborado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais em 2015, aponta o aumento de 54% de assassinato de mulheres negras em 10 anos, provando que a violência contra mulher no Brasil tem cor, e ela é negra!
RECITANDO MINHA DOR: POESIA E HIP HOP COMO RESISTÊNCIA
“Orava pra Deus todo dia pedindo:
Deus quero ser branca, Deus quero ser linda, Deus quero ser magra,
quem sabe assim um dia eu seja amada, de alguém a namorada,
andar pelas ruas de mãos dadas, tô cansada de ser sempre escondida e camuflada.
Pra eles eu não sou nem mulher, tá ligado...
eu só sou um banquete, só um boquete, só mais uma goza, só mais uma foda
e eles dizem que não vão me chupar porque a minha buceta é mal cheirosa...”
Trecho da poesia “Minha própria Deusa” parte 1. Agatha Sou
Na periferia o povo experimenta o abandono e o ápice da violência urbana, e é justamente onde vivem, em sua maioria, a população negra. A jovem negra Agatha Souza da Costa, que adota o codinome “Agatha Sou”, vive no bairro do Tapanã, periferia desta cidade amazônica, Belém do Pará, começou a experimentar em sua adolescência os impactos do racismo e da desvalorização da mulher negra no que tange sua estética e sua vida afetiva.
Agatha desde criança escreve suas dores em diários, poesias, crônicas e músicas, mas sempre as guardou por falta de incentivo, recebendo atenção apenas de sua mãe, que a inscrevia em cursos de redação e teatro. Somente em abril de 2019, aos 20 anos, através do projeto Slam Dandaras do Norte(3), se encorajou a apresentar seus escritos por ser um grupo de mulheres, e assim sentiu que poderia fazer o mesmo que elas. Shayra Mana Josy, autora do projeto, a incentivou a fazer mais poesias, o que demonstra a importância do apoio de mulheres negras, que expressam muito mais empatia por compreender as dificuldades e dores que uma jovem negra periférica enfrenta.
Na primeira edição do projeto em 2019, Agatha recebeu o prêmio de primeiro lugar e desde então não parou mais de recitar as poesias por diversos espaços culturais em Belém que lhe davam a oportunidade de declamar. O meio em que mais se inseriu foi nas batalhas de rap pelos bairros da cidade, que as convidavam pra recitar seu slam(4).
Por seu slam ser diferente, tanto pela performance no palco, quanto pelas letras que expressam muito sobre os relacionamentos abusivos vividos, usando palavras como “buceta” e “foda”, este escandaliza muitas pessoas e provoca diferentes reações. Assim, foi convidada a abrir alguns pockets shows(5) de artistas mulheres do rap da cidade, pôde recitar em escolas, eventos grandes, viajar para fora do estado pela primeira vez, porém, considera como mais importante o retorno das mulheres negras, gordas, trans, lgbtqia+ e periféricas, dizendo que suas poesias, ou slam, as representou e as empoderou. Vale destacar que o meio hip-hop paraense ainda é, em sua maioria, composto por homens, héteros, cis e periféricos que são excludentes em suas batalhas de rap, eventos hip-hop e outros, de modo geral é uma cena ainda muito machista, homofóbica, lesbofóbica e transfóbica. Por isso também Agatha sentiu-se instigada a inserir-se neste campo, buscando representar seu grupo, que é constantemente silenciado e invisibilizado. Através desse slam busca apresentar um olhar mais crítico para reflexão e mudança de comportamento dos homens, das mulheres, empoderá-las, combater a lgbtqia+ e fortalecer as jovens negras que passam pelo mesmo processo de dor, exclusão e solidão.
NOTAS
1. Discente do curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
2. Bacharel em Administração pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Discente do curso de Ciências Sociais (UFPA) e militante da Marcha Mundial das Mulheres.
3. “Projeto feito por mulheres e para mulheres que consiste no incentivo à produção e competição de poesia. Estreou em 2017 com foco principal em garantir o protagonismo feminino nos espaços culturais de Belém. A ideia inicial era realizar um encontro com as rappers do Norte, que são invisibilizadas no cenário nacional brasileiro.” (TELES, 2019 p. 26).
4. “Slam, ou melhor dizendo poetry slam, é definido como: uma competição de poesia falada, um espaço livre de expressão poética, tem origem nos Estados Unidos no ano de 1986 em um bar situado na vizinhança de classe trabalhadora no Norte de Chicago.” (TELES, 2019 p. 26).
5. pocket show são pequenos shows de rap feitos por artistas locais.
REFERÊNCIAS
Carneiro, Sueli. 2011. “Enegrecer o feminismo: A situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero”. Disponível em: https://www.geledes.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero.
Lemos, Amanda dos Santos. 2016. “Respeito e valorização à mulher negra”. Dignidade Re-Vista, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 11. Disponível em: http://periodicos.puc-rio.br/index.php/dignidaderevista/article/view/185.
Teles, Joseane Franco. 2019. “Protagonismo feminino no movimento hip hop de Belém do Pará: Reflexões de uma mana”. Belém, PA. Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia. Universidade Federal do Pará.
sexta-feira, 19 de julho de 2019
Presidencialismo no Brasil e Crise Política
Plena sexta-feira de julho, verão paraense, e estou aqui na conclusão do último trabalho do semestre de Ciências Sociais. Este pequeno texto que fiz em conjunto com meus colegas de curso, Alexandre Blanco e Maicon Pantoja, é produto da última avaliação da disciplina Tópicos Temáticos em Ciência Política, conduzida pelo Prof. Dr. Bruno de Castro Rubiatti. Foi uma disciplina de conteúdo denso, porém bastante atualizado e nos trouxe diversas questões sobre o presidencialismo de coalizão como sistema, os custos da gerência da coalizão, o papel dos parlamentares e das comissões na câmara para aprovação de projetos e leis, bem como seu poder na agenda governamental, o lobby e a representação de interesses.
Compartilho o texto que produzimos na intenção de instigar o leitor a refletir sobre o tema e se houver maior interesse, buscar mais sobre, a gama de texto que tivemos acesso nesta disciplina explica muito da crise política que estamos vivenciando em nosso país.
PRESIDENCIALISMO BRASILEIRO E A CRISE POLÍTICA
VIVENCIADA NO PAÍS
Alexandre José Blanco Pereira
Ana Carla Tavares Franco
Maicon Silva Pantoja
Universidade Federal do Pará
O
termo “presidencialismo de coalisão”, cunhado para descrever o sistema político
brasileiro, segue seu debate como um tipo de presidencialismo multipartidário,
proporcional, no qual o presidente não consegue fazer maioria com o seu partido
no congresso, portanto, realiza alianças, coalizões para apoiar suas políticas
e governo.
Possui
origem histórica e profunda no Brasil, desde 1946 o país tem coalizões. Atualmente
o presidente mantem-se no poder de forma estável, mas o congresso adquiriu
possibilidades de controle de agenda governamental, fazendo com que o
presidente dependa crucialmente de uma coalizão majoritária para governar. Na
realidade, representa um sistema de alianças de governo, prática que produziu
disfunções tais como o domínio do clientelismo e perda de qualidade das
políticas públicas. O modelo clássico de coalisão, o governo parlamentarista,
com os partidos no campo fazendo campanha para o parlamento e a distribuição
das cadeiras, difere do presidencialismo que monta seu governo de forma direta
e no caso do Brasil atinge extrema fragmentação.
Se
no parlamentarismo é a coalisão que forma o governo, no caso do
presidencialismo o governo é realizado pelo presidente e após a coalisão é
montada, ou seja, ao negociar a coalisão estão negociando programas. O programa
em tese é o proposto pela coalisão vencedora, apesar das incertezas. O espaço
para negociação programática na coalisão poderá ser mínimo de acordo com as
condições em que se encontre conveniências.
Em
tese, produz-se um sistema hiper fragmentado e difícil de governar, com a
necessidade de concessões por parte do presidente a partir da concentração de
suas prerrogativas de gerenciamento da coalisão. O presidencialismo de
coalisão, enquanto termo recente, ao pensar a formação de gabinetes
multipartidários dando apoio ao presidente, reflete uma prática considerada até
então exclusiva de sistemas parlamentaristas. O compartilhamento das tarefas de
governo realizadas no presidencialismo em boa medida tem como objetivo criar
medidas de sustentação das políticas de governo no âmbito do congresso. Uma
modalidade de organização das relações entre os poderes com base em um gabinete
que traz partidos legislativos que não os do presidente para realização das
atividades e tarefas de governo.
Em suma, a ideia do presidencialismo de coalizão no Brasil
assenta-se no papel do presidente da República buscar a formação de coalizões
multipartidárias que sustentem o seu governo. O
presidencialismo de coalizão não é um sistema de governo e, sim, um arranjo
político-institucional que visa, por meio da coordenação política entre
Executivo e Legislativo, manter a governabilidade no país oferecendo a
maioria de que dispõem no Congresso para apoiar a agenda presidencial. O
chefe do Executivo é responsável por decidir os partidos com quem irá governar
e de que forma irá alocar os recursos de poder e financeiros disponíveis a
esses partidos. O executivo é detentor de uma vasta “caixa de ferramentas”
(Raile, Pereira e Power, 2010) para gerenciar coalizões. O caso brasileiro é
pitoresco pela presença de características institucionais que, combinadas,
poderiam ser desastrosas para o funcionamento e a manutenção da democracia com
um presidente constitucionalmente forte, multipartidarismo, eleições no
Legislativo com voto em lista aberta e representação proporcional, fragmentação
partidária, federalismo e polarização ideológica (Linz, 1990; Mainwaring, 1993;
Shugart e Carey, 1992; Stepan e Skach, 1993).
Outro aspecto da instabilidade deste
modelo é a ausência de disciplina partidária, fragmentação das forças
políticas existentes no País e a incapacidade de o Poder Executivo exercer o
seu papel, podendo gerar um problema no modelo político e de gestão do Estado.
Observamos este aspecto na atual gestão do governo Bolsonaro, que tem a obrigação de convencer os parlamentares a
votar no projeto de reforma que é do Executivo e, transferir essa responsabilidade para os presidentes
da Câmara e do Senado. Hoje a crise política não é apenas uma crise de
gestão política, é uma crise sistêmica do modelo brasileiro. Outro aspecto
desse modelo débil é a fragilidade dos partidos políticos brasileiros que viriam
a se tornar uma grande dificuldade que passou a ser um “muro” na formação
de uma base de sustentação ao presidente anômala e com tendência a
instabilidade política.
Os
trabalhos iniciais apontavam a singularidade da experiência brasileira, mas já
existem pesquisas que demonstram como esse tipo de gabinete está presente em
vários sistemas presidencialistas, a forma como se organiza, como os partidos
participam do governo, por exemplo, como o governo busca esse apoio, em alguns
casos, nomeações aos ministérios, em outros cenários práticas mais
clientelistas, como o acesso a recursos dos ministérios e órgãos dos governos
atrativos aos parlamentares, mas está presente em outros sistemas
presidencialistas, inclusive em sistemas semi presidencialistas.
A
ciência política brasileira compreende que o presidencialismo poderia funcionar
de maneira estável com coalisões e descreveu como isso se daria, a partir de
Sérgio Abranches que põe o problema, Fernando Limongi e Argelina Figueiredo com
as pesquisas de votação no plenário, descreveram o modus operandi analisados
por esses cientistas políticos. Um grande feito para modificar a ortodoxia de
centro, explorada pelas propriedades dinâmicas do sistema a médio e longo prazo,
não haviam sido analisadas com mais profundidade até então.
Atualmente
as bancadas perderam tamanho, bancadas médias bem menores que as do início dos
anos 90 e a fragmentação dos partidos tirou todos os 'pivôs', ou seja, os
organizadores do jogo no congresso, ficou mais inorgânico, desestruturado, há
ironia sobre a crise do presidencialismo de coalisão pela exacerbação dos seus
efeitos pela operação continuada durante os anos, porém não há uma solução
estruturada, uma resolução fechada para o impasse, fruto do quadro
institucional vigente.
O
sistema eleitoral proporcional, em lista aberta, com distritos com quociente
eleitoral com pouco mais de 1%, ou seja, ingredientes que produziram um
presidencialismo que dependia de coalisões estão vigentes, perdendo
legitimidade na medida em que seus efeitos se aprofundam, em cenários com
partidos que desenvolvem-se efetivamente, alterando-se quantitativamente.
Significa
dizer que talvez o presidencialismo de coalisão esteja perdendo
credibilidade/legitimidade no momento em que o sistema político está subordinado
e capturado pelos seus problemas, neste momento, um grande número de pequenas
bancadas no congresso e um presidente eleito de forma desconectada do mapa
partidário. Traços preocupantes do presidencialismo de coalisão estão mais
fortes que em qualquer outra época, o desafio para o Brasil.
A
opção por formar coalisões não é um capricho do presidente, ou voluntário, mas
sim, resultado de constrangimentos políticos que o presidente tem pra governar,
um sistema eleitoral proporcional que favorece a eleição de muitos partidos no
congresso, fragmentado. A estrutura federativa do Brasil em que os governadores
e regiões tem demandas específicas e buscam desenvolver suas influências diante
do governo federal são incentivos e constrangimentos que tornam o presidencialismo
de coalisão uma necessidade, então o presidente forma a coalisão de maneira que
não contempla somente suas necessidades.
O
congresso se mantém fragmentado, está mais pulverizado, com a força parlamentar
menor representado pela eleição de 2018, que acentuou esse cenário. Não
significa que as coalisões serão formadas da mesma forma, mas certamente, a
lógica de associação e alianças com os partidos parlamentares e sua
participação no governo irá persistir.
Uma
hipótese recorrente dos estudos sobre o presidencialismo de coalisão é que o
governo funciona bem se os partidos são recompensados devidamente, se recebem
uma proporção de ministérios de acordo com seu peso parlamentar, observado por
todos os presidentes deste a redemocratização do Brasil.
Neste
aspecto, os governos precisam investir em coalisões governativas com os
partidos legislativos, caso contrário operar com coalisões legislativas, buscar
o apoio dos partidos e das bancadas para aprovar certos temas, coalisões mais
pontuais a depender dos temas em votação. Coalisões mais instáveis, fluidas,
que exigem esforço maior de coordenação porque precisam ser negociadas a todo
momento. Nesta direção, sinaliza-se coalisões legislativas a partir de bancadas
que se aglutinam a partir da defesa de determinado tema, tais como o ruralismo,
a bancada da bala, a previdência social.
São
temas de relevância central para legisladores de diferentes partidos, as
bancadas não oferecem apoio sólido a um presidente que tem agenda que passa por
assuntos muito distintos. Dificilmente manterão sustentação para o conjunto dos
temas, certamente os partidos continuam sendo atores centrais embora dada a
fragmentação do congresso, investimento na reorganização da base partidária no
congresso pelo presidente.
No
Brasil, a relação do governo com o congresso tendo em vista a câmara dos
deputados, a primeira a analisar os projetos do governo com grande centralidade
em um sistema bicameral, é responsável por parte das dificuldades de coalisão
na coordenação das duas casas. Neste sentido, é importante discorrer sobre os
custos da coalizão neste sistema.
O
presidente eleito pode pensar em bancadas temáticas para montar governo e
haverá bancadas de determinadas áreas que fará lobbies pela indicação de
ministros, ou algo parecido. Outra análise diz que haverá a aprovação de alguma
emenda constitucional em que deverá aglutinar grande parte dos deputados, ou
mais do que isso, ter os 3/5 para as emendas constitucionais, nesse caso, um
impasse surge às bancadas temáticas, dispersadas em temas sem organicidade. Os
partidos são mais confiáveis por seus propósitos conjuntos, uma oposição que
dificulta ou uma situação que acelera os processos institucionais.
Tende-se
a pensar a montagem da coalizão como um ato de “compra”, em que o chefe do
Executivo realiza o pagamento para obter a governabilidade, que teria como
consequência o desvirtuamento do programa de governo. “As investigações da Lava
Jato teriam revelado o custo do presidencialismo de coalizão ou, mais
exatamente, o preço pago pelo Executivo para obter apoio parlamentar. Um alto
preço que sempre esteve presente, mesmo nos momentos de ‘bonança’, um custo nem
sempre visível, mas que as investigações estariam revelando que teria ‘estado
lá’ o tempo todo. Bem consideradas as coisas, seguindo essa linha de
raciocínio, a ‘cooperação’ entre os poderes teria se resumido a poucos períodos
do governo de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, repousando, em última
análise, nas qualidades excepcionais desses líderes para manter o Congresso sob
seu controle”. (LIMONGI e FIGUEIREDO, 2017, p. 80)
Desta forma, a raiz da crise atual seria o
modelo de presidencialismo de coalizão, que estaria encontrando seus limites e
somente com sua transformação radical ou mesmo abandono do modelo é que seria
possível sair do buraco em que o país se meteu. Porém, se colocado o debate
nesses termos, este torna-se necessariamente vago. Não há dúvidas de que em
nosso país as três coisas – crises, presidencialismo e coalizões – coexistem,
mas qual seria o modelo alternativo? E qual a verdadeira raiz do problema? O
presidencialismo ou a coalizão?
O
parlamentarismo é visto como uma das soluções, mas no Brasil dificilmente seria
possível este regime e os eventuais primeiros-ministros não fossem forçados a
recorrer a coalizões. É possível imaginar no Brasil um sistema bipartidário,
com possibilidade real do presidente ter maioria parlamentar, sendo
presidencialismo sem haver a coalizão? Ou um governo unipartidário? Em suma,
não são trazidas propostas concretas ao debate e este acaba sendo vago, povoado
por referências à reforma política.
Ao
longo da crise brasileira, a corrupção e o presidencialismo de coalizão
passaram a ser identificados como o preço a ser pago pelo presidente para obter
apoio parlamentar. Assume-se que essa necessidade, a busca pela maioria,
colocaria o presidente nas mãos dos partidos encastelados no Congresso, porém
seria diferente se o partido do governo controlasse a maioria das cadeiras
legislativas? Em outros termos, o presidencialismo de coalizão leva a culpa e
implica assim ao retorno da tese da irresponsabilidade do Legislativo e da
falta de compromisso com princípios e programas que caracterizaria os políticos
brasileiros.
“Mesmo
no argumento alegada ou supostamente institucional, a corrupção e a crise que o
país vem enfrentando pouco tem a ver com o desenho institucional. Reconhecer
que instituições importam não é o mesmo que dizer que só instituições importam.
Não há sistema político imune a crises. Não há sistema político que funcione
sem que políticos façam escolhas, definam seus objetivos e estratégias para
lidar com seus aliados e seus inimigos. E essas escolhas têm consequências, nem
sempre as melhores ou aquelas com as quais concordemos. Em uma palavra, não há
sistema que prescinda da política”. (LIMONGI e FIGUEIREDO, 2017, p. 96)
BIBLIOGRAFIA:
BERTHOLINI, Frederico e PEREIRA, Carlos.
Pagando o preço de governar: custos da gerência de coalizão no Presidencialismo
Brasileiro. RAP, v. 51, n. 4, 2017, p. 528-550
LIMONGI, Fernando e FIGUEIREDO, Argelina. A
crise atual e o debate institucional. Novos Estudos CEBRAP, v. 36, n. 3, 2017,
p. 79-97
RODRIGUES, Leôncio
Martins Rodrigues. Partidos, Ideologia e composição social: Um estudo das
bancadas partidárias na Câmara dos Deputados. São Paulo: Edusp, 2002 (cap. 1,
p. 25-50)
segunda-feira, 10 de junho de 2019
Suspiros de uma canção
A música toca
Saudade de paixão toma meus pensamentos
E é de ti que me lembro
O gosto do teu beijo
A lembrança do teu cheiro
O arrepio da minha pele com teu toque
Tudo me vem ao fechar meus olhos
Numa viagem ao mundo do impossível
Sensação que não se perdeu
E que não tem esperança de voltar
Que em versos tenta alimentar
A chama que não vai mais queimar
De um longo suspiro
Surge um sorriso
Por ter vivido essa loucura
Tão piegas quanto esses escritos
Ah como eu queria que soubesses
Da saudade que sente meu corpo
Em viver tudo isso de novo
Que chegue em ti meus sentimentos
Como um pedido de socorro
Ainda te quero e não terei.
segunda-feira, 15 de abril de 2019
Vivência Percussiva e Tambores do Pacoval - Soure - Marajó - PA
Em agosto do ano passado, embarquei num curso de percussão aos domingos, debaixo da jaqueira do Centro Comunitário Tiradentes (CCT) na Marambaia. O mestre Flávio Gama e a mestra Antônia Ribeiro conduziram estes encontros, e assim foi surgindo o grupo batizado de Vivência Percussiva Debaixo da Jaqueira. Fui com a expectativa de aprender novas batidas para a batucada feminista da Marcha Mundial de Mulheres, mas acabei encontrando um espaço terapêutico, de reconexão com nossa ancestralidade através do tambor, de trocas de boas energias, novas amizades e com o incentivo dessas estou me tornando uma batuqueira :)
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Divulgação do Passeio |
Começamos a sair debaixo da jaqueira, recebemos convites pra batucar por aí, transmitindo a cultura popular, os tambores, o carimbó, de forma descontraída, com muita alegria. Foi realizado o Jaca Fest no CCT em 2018, levamos os tambores para o Bloco A do básico na UFPA, e este ano na Praça da República no evento do Janeiro branco, dedicado à saúde mental, e nos Batuke de Kintal na casa da Maria.
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Chegada em Soure |
Fomos num grupo de 30 pessoas, entre participantes da vivência percussiva, amigas do trabalho e amigos do Bruno Brabo que estava fazendo aniversário no dia 02/02 e aproveitou para comemorar a data conosco.
Embarcamos na lancha Golfinho, com horário de saída às 8:40h, porém saímos às 9h. A passagem custa R$ 48,00, vale a pena, super confortável e chega direto no porto de Soure. Chegamos lá às 11h e um microônibus fretado exclusivamente para o nosso passeio nos conduziu à praia do Pesqueiro.
Esquentando os tambores |
Minha amiga D. Rose (preta velha de muita sabedoria que tenho o privilégio de trabalhar junto) nos deu a dica de irmos logo para esta praia devido a festa de Iemanjá que iria acontecer a partir do meio dia por lá. Foi de fato uma valiosa sugestão!
Chegamos num clima nublado, estamos em pleno inverno paraense, mas curtimos bastante a praia, compartilhamos nossas farofas e quitutes, muitos registros e uma batucada de leve pra esquentar.
A maré tava seca, mas não nos impediu de curtir as belas paisagens, bons papos e muita música para embalar nossa tarde.
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Festa de Iemanjá no Pesqueiro |
Começaram os fogos, ao longe o som dos tambores. Estava dando início à festa de Iemanjá do terreiro da D. Fátima. Não demorou muito e avistamos a linda embarcação com a imagem da rainha do mar, a oferenda que seria lançada ao final do ritual. Ela foi transportada ao barracão que estava em nossa direção mais à frente, impossível não ir lá apreciar a festa.
Impressionante o toque do tambor dos atabaqueiros do ritual, os tambores todos pintados de azul celeste, tambores de Iemanjá!
Muito emocionante ver tanta gente mantendo viva sua tradição, respeitando sua ancestralidade, dando luz às suas crenças, fazendo seus pedidos, agradecimentos e toda a boa energia e vibração que a gente sente nesses momentos. Foi um privilégio à parte participar dessa festa!
Praia do Pesqueiro |
Mas chegava o momento de partirmos para o Pacoval, já se aproximava o horário de início da nossa oficina de percussão e precisávamos seguir a programação. Difícil mesmo é ir embora de um lugar tão lindo e vivendo momentos tão especiais!
Depois de todos embarcados no microônibus, tive que retornar para entregar os pertences da amiga Lu que haviam levado por engano, foi aí que recebi meu presente: O barco oferenda de Iemanjá surgiu na minha direção e o registro só ficou na minha memória, junto com meu agradecimento e meu pedido. Eu voltei só pra isso, pra contemplar sua ida para o mar, junto com a esperança e a gratidão de todos aqueles que a miravam. Odoyá, rainha Iemanjá!
Na Associação dos Moradores do Pacoval foi dado início à oficina de percussão com o Mestre Flávio Gama e a Mestra Antônia Conceição, que abriu com exercícios de alongamento.
Todos foram pegando os instrumentos para participar da oficina e quem nunca tocou um tambor na vida ficou entusiasmado em poder tocar numa gira tão linda que se formou! Diversos ritmos e técnicas que de forma muito simples o Mestre Flávio transmite para os viventes.
Em seguida, foi a vez da Mestra Antônia nos mostrar as técnicas com as maracas e agbês. Instrumentos que a princípio parecem simples de tocar, mas que exigem muita concentração, ritmo e métodos pra acompanhar o toque dos tambores.
A oficina encerrou-se no início da noite, com uma grande roda de parabéns ao aniversariante do dia, Bruno Brabo! Rolou os parabéns, muito bolo, suco e comidinhas! Muito axé em sua vida!!! Um privilégio comemorarmos esta data ao meio de tantas boas vibrações e muito toque de tambor!!!
A noite só estava começando, pois logo em seguida deu início a festa tradicional de todos os sábados da Associação de Moradores do Pacoval. O grupo de carimbó Tambores do Pacoval, com a ilustre presença do Mestre Diquinho, foi o ponto alto do final de semana!
Mestre Flávio fez fala de agradecimento, fazendo um relato sobre o resgate do carimbó naquela comunidade, que se deu após a realização de oficinas de percussão pelo mesmo há 10 anos. Mestre Diquinho recebeu as honrarias e os integrantes do grupo Tambores do Pacoval também fizeram suas falas e relataram os trabalhos que são realizados na Associação.
Encantador o bailado das dançarinas de carimbó, de todas as idades, com um passo específico da dança que vai até o chão, e que os homens também dominavam com maestria! Um grupo de senhoras da terceira idade ensaiam durante a semana e todos os sábados vão bailar nesta festa, girando suas lindas saias floridas! O aniversariante foi desafiado a dançar até o chão, e não fez feio! Assim como todos os presentes na festa também se viram desafiados a acompanhar. Um intercâmbio cultural inesquecível!!!
No dia seguinte, momento de partida e despedidas. Tínhamos programado para esta manhã passeio para Praia da Barra Velha, mas acabou virando roda de carimbó na casa da Lu, pois a chuva da noite inteira ainda persistia, sem chance de trégua! Após o café, o som do tambor começou a ecoar e logo se aproximaram os garotos da comunidade ansiosos pra batucar!
Todos ficaram impressionados com a habilidade do pequeno Arthur ao tocar curimbó. Sem parecer fazer grande esforço, o menino tocava de forma intensa, encantando a todos que estavam presentes na casa. Era o próprio Rei Arthur do Carimbó! Hehe! Nos empolgou de tal maneira que nos atrasou na saída para a praia!
Aproveitamos a oportunidade para também conhecer o atelier de cerâmica marajoara do Mestre Ronaldo, com peças belíssimas, e conversar com a D. Solange, foram nossos anfitriões que nos receberam com muito carinho nesta comunidade!
Fica nosso imenso agradecimento por tudo que vivemos e nossa admiração pelo belo trabalho desenvolvido! E nosso muito obrigado à Luciene, que chamamos carinhosamente de Lu, por ter disponibilizado sua casa para nos hospedar. Esperamos voltar mais vezes a este lugar maravilhoso, de gente simples e aguerrida!
Antes de partir de volta à Belém, a chuva cessou, o sol timidamente se abriu e fomos conhecer a Praia da Barra Velha. Por sugestão do amigo Bruno, fomos à parte da praia que fica logo depois do mangue, sendo necessária uma boa caminhada pela ponte, que acaba sendo um atrativo à parte para contemplação da natureza.
Não existem palavras pra descrever a beleza dessa praia! Nosso único lamento foi não poder ficar mais tempo para aproveitar essa beleza marajoara, só conseguimos pedir o almoço e nos arrumar para pegar a lancha no porto do Camará, ficando aquele super gostinho de quero mais.
Chegamos no horário no porto e tudo deu certo, foi uma ótima viagem e só fica a saudade e muita gratidão por tudo que vivemos, foram lindas experiências, amizades, a boa convivência em coletivo e laços que se formaram! Aguardamos ansiosos a próxima viagem da Vivência Percussiva pelo Pará!
*Todas as fotos deste passeio estão disponíveis no álbum, que pode acessar clicando aqui.*
Na Associação dos Moradores do Pacoval foi dado início à oficina de percussão com o Mestre Flávio Gama e a Mestra Antônia Conceição, que abriu com exercícios de alongamento.
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Alongamento com Mestra Antônia |
Todos foram pegando os instrumentos para participar da oficina e quem nunca tocou um tambor na vida ficou entusiasmado em poder tocar numa gira tão linda que se formou! Diversos ritmos e técnicas que de forma muito simples o Mestre Flávio transmite para os viventes.
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Mestre Flávio no comando da vivência percussiva |
Diva das Maracas - Mesta Antônia |
A noite só estava começando, pois logo em seguida deu início a festa tradicional de todos os sábados da Associação de Moradores do Pacoval. O grupo de carimbó Tambores do Pacoval, com a ilustre presença do Mestre Diquinho, foi o ponto alto do final de semana!
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Mestre Diquinho |
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Vivência Percussiva e Tambores do Pacoval |
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Arthur no comando do curimbó |
Todos ficaram impressionados com a habilidade do pequeno Arthur ao tocar curimbó. Sem parecer fazer grande esforço, o menino tocava de forma intensa, encantando a todos que estavam presentes na casa. Era o próprio Rei Arthur do Carimbó! Hehe! Nos empolgou de tal maneira que nos atrasou na saída para a praia!

Fica nosso imenso agradecimento por tudo que vivemos e nossa admiração pelo belo trabalho desenvolvido! E nosso muito obrigado à Luciene, que chamamos carinhosamente de Lu, por ter disponibilizado sua casa para nos hospedar. Esperamos voltar mais vezes a este lugar maravilhoso, de gente simples e aguerrida!
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Rumo à Praia da Barra Velha |
Não existem palavras pra descrever a beleza dessa praia! Nosso único lamento foi não poder ficar mais tempo para aproveitar essa beleza marajoara, só conseguimos pedir o almoço e nos arrumar para pegar a lancha no porto do Camará, ficando aquele super gostinho de quero mais.
Chegamos no horário no porto e tudo deu certo, foi uma ótima viagem e só fica a saudade e muita gratidão por tudo que vivemos, foram lindas experiências, amizades, a boa convivência em coletivo e laços que se formaram! Aguardamos ansiosos a próxima viagem da Vivência Percussiva pelo Pará!
*Todas as fotos deste passeio estão disponíveis no álbum, que pode acessar clicando aqui.*
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Viventes Percussivos :) |
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Praia da Barra Velha |
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
Resumo: O Estado e a Revolução - Lênin
Resolvi postar esse resumo ao conversar com meus amigos de Fortaleza sobre os acontecimentos nesta cidade que sempre me dá saudade, delegacias e viaturas da polícia incendiadas, a violência do crime organizado contra o Estado e a diferença disso com as estratégias da esquerda, lembrei desta obra de Vladimir Ilyich Ulyanov, conhecido pelo pseudônimo Lênin, "O Estado e a Revolução", em que afirma que a substituição do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução violenta.
Fiz resumo somente do 1º capítulo sob orientação da Profª Zuleide Pontes, na ocasião que cursei Sociologia I - Marx no curso de Ciências Sociais UFPA. Mais uma vez, sempre grata por esta mestra!
Segue então este pequeno aperitivo para leitura da obra completa a quem interessar depois ;)
Também encontrei um resumo bem bacana, que disponibilizo link aqui.
Também encontrei um resumo bem bacana, que disponibilizo link aqui.
Resumo de: LÉNINE, V. I. O Estado e a Revolução. 1ª Ed. São Paulo: Alfa e Ômega, 1980.
A sociedade de classes e o Estado
Este primeiro capítulo da obra de Lênin inicia com o subtítulo “O Estado, produto do caráter inconciliável das contradições de classe” em que discorre sobre as deturpações da obra de Marx, declarando que se repete o mesmo ritual em que as classes opressoras perseguem, calunia em vida o autor e depois de sua morte tenta transformar em ícone inofensivo, conceder ao seu nome uma certa glória para consolar as classes oprimidas, castrando o conteúdo da doutrina revolucionária. Neste caso, o arranjo do marxismo encontram-se agora a burguesia e os oportunistas dentro do movimento operário, afasta-se o lado revolucionário da doutrina e coloca-se em primeiro plano aquilo que é aceitável ou o que parece aceitável para a burguesia.
Tomando este conhecimento, o autor descreve qual a tarefa diante desta situação, que consiste ante de mais nada em restabelecer a verdadeira doutrina de Marx sobre o Estado e para isto é necessário apresentar toda uma série de longas citações das próprias obras de Marx e de Engels, reconhecendo que será uma exposição pesada, sem caráter popular, mas impossível passar sem elas.
Assim, começa pela análise da obra de Engels: A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, citando o que o mesmo entende por Estado, um produto da sociedade em determinada etapa de desenvolvimento, a admissão de que esta sociedade se envolveu numa contradição insolúvel consigo mesma, se cindiu em contrários inconciliáveis que ela é impotente para banir. Ou seja, claramente o Estado é o produto e a manifestação do caráter inconciliável das contradições de classe. É neste ponto essencial que o autor afirma que inicia a deturpação do marxismo, seguindo em duas linhas principais.
Os ideólogos burgueses e especialmente pequenos burgueses de um lado, obrigados sob a pressão de fatos históricos incontestáveis a reconhecer que o Estado existe apenas onde existem contradições de classe e luta de classes. “Corrigem” Marx de tal maneira que o Estado aparece como um órgão de conciliação de classes, mas segundo Marx o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação da ordem que legaliza e consolida esta opressão moderando o conflito de classes. Segundo a opinião dos políticos pequeno-burgueses moderar o conflito significa conciliar. Lenin denuncia que todos os socialistas-revolucionários e mencheviques na revolução de 1917 caíram inteiramente na teoria de “conciliação”, tornando prova evidente de que os mesmos não são de modo algum socialistas, mas democratas pequeno-burgueses com uma fraseologia quase-socialista.
No segundo subtítulo “Destacamentos especiais de homens armados, prisões, etc.” trata da característica primária do Estado, de divisão dos cidadãos segundo a região, obedecendo a velha organização gentílica, vista por Engels. Divisão esta que parece natural, mas exigiu longa luta contra a antiga organização por gens ou tribos. Por seguinte, a característica de instituição de um poder público, um poder público especial e necessário porque desde a divisão de classes se tornou impossível uma organização armada espontânea da população. Engels desenvolve a noção desta “força” que se chama Estado, consistindo fundamentalmente em destacamentos especiais de homens armados tendo à sua disposição prisões, etc.
Continua a desenvolver o raciocínio da questão da necessidade de destacamento especiais de homens armados devido a divisão da sociedade em classes inconciliavelmente hostis e coloca que o poder público reforça-se na medida em que se agudizam os antagonismos de classe no seio do Estado e na Europa da época a luta de classes e a concorrência de conquistas fizeram subir o poder público a um plano em que ele ameaça devorar toda a sociedade e mesmo o Estado. Segue descrevendo as guerras fruto desta concorrência de conquistas.
O terceiro subtítulo “O Estado – instrumento de exploração da classe oprimida” vem explanar sobre a lógica de impostos e dívida pública para manutenção deste poder público especial, além da situação privilegiada dos funcionários como órgãos do poder de Estado.
Uma observação pertinente do autor sobre Engels repousa na constatação de que a república democrática é o melhor invólucro político do capitalismo, e por isso o capital, depois de ter se apoderado deste invólucro, que é o melhor, alicerça o seu poder tão solidamente, tão seguramente, que nenhuma substituição, nem de pessoas, nem de instituições, nem de partidos na república democrática burguesa abala este poder.
E encerra dizendo que a sociedade que de novo organiza a produção sobre a base de uma associação livre e igual dos produtores remete a máquina de Estado inteirinha para onde então há de ser o lugar dela: para o museu de antiguidades, para junto da roda de fiar e do machado de bronze.
Por fim, no quarto e último subtítulo “A ‘extinção’ do Estado e a revolução violenta”, o autor denuncia a essência da falsificação habitual do Marxismo pelo oportunismo através das palavras de Engels frequentemente citadas em relação ao que disse sobre a “extinção” do Estado, mostrando ponto a ponto quais são essas citações.
Primeiro enfatiza o que Engels fala de “supressão” do Estado da burguesia pela revolução proletária, ao passo que as palavras sobre a “extinção” se referem aos resíduos do Estado proletariado, depois da revolução socialista. O Estado burguês, segundo Engels, não “se extingue” mas “é suprimido” pelo proletariado na revolução. O que se extingue depois dessa revolução é o Estado proletário, ou um semi-Estado.
Segundo tratando do Estado como força especial para repressão do proletariado pela burguesia deve ser substituída por uma força especial para a repressão da burguesia pelo proletariado (a ditadura do proletariado). É nisso que consiste a supressão do Estado como Estado.
Terceiro trata da etapa seguinte, da tomada de posse dos meios de produção pelo Estado em nome de toda a sociedade, depois da revolução socialista, os oportunistas não tratam de extinção da democracia, pois ela também é um Estado, e que, consequentemente, a democracia desaparece quando desaparece o Estado.
Quarto. Ao formular a sua famosa tese “O Estado extingue-se” Engels explica logo que esta é dirigida tanto contra os oportunistas como contra os anarquistas. Quinto e último ponto trata da importância da revolução violenta, “Que a violência, porém, ainda desempenha outro papel na história, um papel revolucionário, que ela, nas palavras de Marx, é a parteira de toda a velha sociedade que anda grávida com uma nova. Só com suspiros e gemidos admite a possibilidade de talvez vir a ser necessária a violência para o derrubamento da economia de exploração – infelizmente!”
O autor encerra concluindo que a substituição do Estado burguês pelo proletário é impossível sem revolução violenta e aponta que fará análise da doutrina de Marx e Engels que realizaram um desenvolvimento pormenorizado e concreto dessas concepções.