Tem momentos que me vejo triste, tão triste... é normal, pois que na vida não é possível a felicidade constante. Assim como tenho um montão de motivos para estar feliz, pra sorrir, também outros inúmeros motivos para entristecer. Em algum momento a tristeza vai chegar, é preciso estar preparada pra esse momento, pra que não venha tomar um espaço pra além da sanidade.
Me entristeço com a solidão,
queria um colo e um bom sexo agora, não posso ter. Sinto um tesão enorme depois
que estudo, após horas de leituras e escritas, um bom sexo cai bem... mas não
tenho ninguém, me sobra a tristeza. Não sei se é mais triste isso ou ter alguém
e mesmo assim não ter sexo, acho que ambos são tristes, tristezas diferentes.
A solidão é minha única via,
caminho certo para evitar aborrecimentos, violência, desdém, abusos. A solidão como arma política. Tem um fanzine sobre isso quando a gente faz a busca, de Marcela Lagarde. O medo da solidão é impeditivo na construção de autonomia, porque desde pequenas nos formam um sentimento de orfandade e dependência, colocando a solidão como algo negativo. Mas foi a solidão que me ensinou a me amar e a dizer não ao que não preciso, ao que não quero e não é
bom para mim, a não mendigar mais afetos. Talvez não alcance tanto a
autoestima, pois por vezes entendo a solidão como preterimento, por não ser uma
pessoa bonita e interessante. Interessante sei que sou, mas bonita nem tanto,
estou fora dos padrões vigentes, acho que o estigma de “preta feia” nunca
deixou de me acompanhar desde a adolescência, aprendi a conviver com ele e sei que deve ser um trauma a vencer.
Acho que não sei mais flertar, na
verdade nunca soube, já levei tantos foras que tenho preguiça de arriscar mais
um, e a solidão me acompanha assim, pois se não me lanço é que nada cai na
minha rede. Já fui muito lanceira, me diverti muito, mas tbm me lasquei igual. Estou
inerte, paralisada. A solidão da mulher negra se faz real para mim. Negra e
mãe, além de tudo feminista, dona de si, eles não querem bancar.
E elas? Pq não falo delas? Pq tbm
não aparecem. Quem sabe um dia eu viva algo bem inusitado e diferente, que me
faça rever tudo isso, não sei, melhor não contar com nada... cansei de viver de
sonhos e ilusões, de contos de fadas, agora eu sigo a realidade e minha
realidade é essa, solidão de uma mãe preta cansada de sofrimentos e carente de
cuidados, de afeto, de carinho e pq não, de sexo. Quem poderia cuidar de mim
pelo menos um pouquinho? Não sei! Eu só sei é que não posso contar com isso e preciso
seguir me cuidando, é o que me resta. Hoje entendo que não posso mais me
escravizar em relações ruins pra suprir essa carência, e nem sucumbir aos
contos encantados da metade da laranja e complementação, não se trata disso. É só
o bom desejo de contato e trocas de energias que não são permitidos a mim, a
nós, o afeto nos é negado e as relações saudáveis são uma loteria, assim se dá
minha sentença nesse viver.
E tem sentenças pesadas para mulheres trans, gordas, com deficiência, idosas, e a cor negra intensifica a opressão. Lutar também é minha única via, para que essa realidade se transforme, que não sejamos mais inferiorizadas, mal tratadas, desrespeitadas, desprezadas. Somos humanas, sociáveis, cheias de energia, também merecemos amor e afeto sadios, satisfatórios, em diversas composições, acordos, cores e sabores!
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