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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Dúvida

Não sei se te quero
Ou se me quero
Apaixonada, louca
Desvairada
Sei que senti saudade
Da energia, da utopia
Do amor e da amizade

Eu continuo sem saber
E não sei quem o dirá
Serás tu ou será eu
Que irá nos condenar
A viver de intensa paixão
Ou deixar de fantasiar
Calando em meu peito uma ilusão
Que insisto alimentar

Se te quero ou não
Nem eu mesma sei dizer
Saudade de ti ou de paixão?
É só mais uma confusão
Que a vida vai resolver.

Tirando onda com as palavras e rimas fáceis no finalzinho do natal.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Vontade

Que vontade de um beijo
Beijo com paixão
Que esquenta o corpo
E os lábios, todos
Apaga as tristezas
Consola as feridas
De estremecer a libido
E traz gosto de vida
Beija
Abraça
Agarra
Esfrega
Suspira
Sussurra
O gozo, delícia
Ah, como queria!
O sabor de uma lambida

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Mulheres negras e as eleições 2018

“A mulher negra é a síntese de duas opressões: a de gênero e a de raça. Isso resulta no tipo mais perverso de confinamento. Se a questão da mulher avança, o racismo vem e barra as negras. 
Se o racismo é burlado, geralmente quem se beneficia é o homem negro. 
Ser mulher negra é experimentar essa condição de asfixia social”. Sueli Carneiro

Segundo dados do mapa da violência elaborado em 2015 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), o homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, enquanto que o de brancas reduziu 10% no mesmo período, além de evidenciar que a mulher negra também é a maior vítima de estupro. Mas por que as negras são as maiores vítimas?

Assim como os demais países latino-americanos, o Brasil ainda sofre com o racismo estrutural e estruturante em nossa sociedade, fruto de uma cultura escravocrata e colonialista. A população negra não recebeu nenhum tipo de atenção ou política de integração com o fim da escravidão, sendo jogados à margem da sociedade. Para as mulheres negras a situação é pior, pois além de serem vítimas de racismo, sofrem com a violência sexista, sendo utilizadas como objeto sexual por séculos, formando uma cultura que se arrasta até os dias atuais. Herança escravocrata. Escravidão modernizada. As antigas amas de leite e mucamas hoje são cozinheiras, governantas, lavadeiras, babás. E quando o corpo é negro, os indicadores retratam a agressividade do racismo: as mulheres pretas com baixa escolaridade são a maioria na categoria trabalho doméstico, têm os piores salários, as condições de trabalho mais precárias e predominam como chefe de família. Em resumo, a camada social mais pobre e marginalizada é a que mais sofre com a violência.

O movimento feminista protagoniza a luta por direitos das mulheres e a articulação das mulheres negras no movimento é essencial para dar direcionamento à construção de políticas públicas que atendam este segmento, haja visto que as estatísticas apontam as mulheres negras como as mais fragilizadas em nossa sociedade. 

Diversas políticas e ações foram implementadas pelos governos do PT desde 2003, visando garantir direito e proteção às mulheres, como a criação de um ministério de políticas para mulheres, criação do bolsa família com titularidade preferencial às mulheres, o Ligue 180 em defesa da mulher, a lei Maria da Penha, lei do feminicídio, licença-maternidade de seis meses, mulheres proprietárias no programa Minha Casa, Minha Vida e a lei dos empregados domésticos, que alcança diretamente as mulheres negras como já foi mencionado e que necessitam de atenção tanto pela garantia de seus direitos, como políticas que as façam ter outra perspectiva para além do trabalho doméstico. Neste sentido, a ampliação do acesso ao ensino superior e programas de ampliação do número de creches para que essas mulheres possam deixar seus filhos em local seguro, com cuidados, permitindo que possam trabalhar, garantindo assim sua autonomia financeira e possam escapar do ciclo da violência doméstica. Apesar da implementação dessas políticas, as mulheres negras ainda não foram alcançadas de forma satisfatória, sendo necessária a ampliação dessas políticas com olhar específico à realidade das negras, e não o retrocesso.

A partir do golpe em 2016, com a deposição da primeira mulher a presidir nosso país, acompanhamos a avalanche de perdas de direitos e aprofundamento da crise econômica que também recebeu estímulo da instabilidade política provocada após o resultado das eleições em 2014. Nestas eleições de 2018, é notório o avanço conservador e a defesa de mais retrocessos nas políticas para as mulheres, que ganhou eco através da candidatura de Jair Bolsonaro. Este enquanto deputado federal votou a favor do corte de investimentos em educação, saúde e segurança através da Emenda Constituicional nº 95, votou a favor da reforma trabalhista que entre as perdas aos trabalhadores merece destaque o dispositivo que permite o trabalho insalubre para grávidas e lactantes, foi contra a lei das domésticas e está há quase 30 anos no congresso nacional sem apresentar um projeto sequer de defesa de direitos às mulheres ou de combate à corrupção, que o mesmo propaga ser o grande defensor. 

Além disso, ele defende a diferença salarial entre homens e mulheres pelo fato das mulheres engravidarem, é favorável a redução do tempo da licença maternidade e afirmou que seus filhos não casariam com uma mulher negra por terem sido “bem educados”. Como se não bastasse, seu discurso tem gerado uma onda de violência provocada por seus seguidores que sentem-se legitimados a cometer crimes de intolerância pelo discurso de seu candidato, como exemplo os casos de estupro de mulheres que não concordam com o posicionamento deste candidato, o assassinato de uma travesti à facadas em São Paulo aos gritos de “Bolsonaro” e “Ele sim”, grupos neonazistas que afloram principalmente no eixo sul/sudeste, e a violência da retórica que representa esta candidatura às mulheres negras.

Mas afinal, o que é o fascismo? Por que a candidatura de Bolsonaro é considerada fascista e ameaça as mulheres negras?

O fascismo é um movimento político, econômico e social. Ele se desenvolveu em alguns países europeus no período após a Primeira Guerra Mundial. Principalmente naqueles que enfrentavam graves crises econômicas, como a Itália e a Alemanha. Entre as principais características desse sistema estão a concentração do poder nas mãos de um único líder, o uso da violência e o imperialismo.

Segundo o filósofo e historiador Norberto Bobbio, o termo fascismo se refere principalmente à sua dimensão histórica. Esta, constituída pelo fascismo italiano e posteriormente pelo fascismo alemão. Na Alemanha, no período após o fim da Primeira Guerra Mundial, surge um regime autoritário bastante conhecido, que compartilhou diversas características do fascismo. Esse regime é o nazismo, que teve como principal líder Adolf Hitler. A ditadura de Hitler teve como principais características a militarização da sociedade alemã, a exaltação do líder e o controle através da intensiva máquina de propaganda, que utilizava os meios de comunicação para disseminar as ideias nazistas.

As características principais do nazismo são apresentadas na obra Mein Kampf, escrita por Hitler durante seu período na prisão. Uma das suas mais conhecidas medidas foi o antissemitismo, marcado pela visão racista e eugenista da superioridade do homem branco germânico, a chamada raça ariana. Essa visão resultou na morte de mais de 6 milhões de pessoas em campos de concentração, a grande maioria formada por judeus. 

Simone de Beauvoir elenca as características de opressão às mulheres com os movimentos fascistas/nazistas, como: -Valorização extrema do ser masculino e suas características, como um nacionalismo, mas aplicado aos sexos/gêneros; -  Culto à força física, enaltecendo os homens e suas “capacidades”, consequente controle, abuso e violência contra as mulheres; -Censura, como silenciamento das mulheres;-  Antidemocrático, o poder concentrado nas mãos dos homens enquanto classe; -  Violência, ódio à mulher e ao que ela representa, misoginia.

Ela afirma também que basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Conforme avança o fascismo, as mulheres são as primeiras a terem seus direitos roubados, principalmente negras. Somos as primeiras a perderem os empregos, a violência contra a mulher aumenta, assim como o feminicídio. O fascismo matou diversas mulheres ao longo da história, a exemplo das irmãs Mirabal, Olga Benario e, mais recentemente, Marielle Franco.

A exaltação de grupos sociais em detrimento de outros é marca do discurso de diversos seguidores de Jair Bolsonaro, que prega o ódio aos homossexuais, negros, mulheres e nordestinos, desta forma as mulheres negras entram na mira da discriminação pelo racismo, machismo, além da perda de direitos conquistados com muita luta.

Precisamos dizer não ao avanço de ideias retrógradas, preconceituosas e violentas, tomarmos posição em defesa da democracia, pela pluralidade de ideias, preservando a liberdade de expressão e a legalidade de reivindicar direitos. Por isso, devemos derrotar Bolsonaro nas urnas para que possamos seguir na luta por avanços e direito das mulheres! Vamos votar em Haddad & Manu 13 para que possamos retomar as políticas e ações em defesa dos direitos das mulheres, em especial as mulheres negras, lutando não só pela garantia e permanência das mesmas, mas pelo avanço necessário para proteção das camadas mais fragilizadas da sociedade brasileira.

A luta contra o fascismo não termina nas eleições, precisamos ampliar nossas mobilizações nos bairros, universidades, escolas e locais de trabalho. Somente a organização das trabalhadoras e trabalhadores, das mulheres, da juventude, será capaz de destruir esse sistema que nos mata todos os dias.

#EleNão #BolsonaroNão #HaddadeManuSim #PelaDemocraciaVote13


Fontes:
http://pretadoidaescreve.blogspot.com/2018/07/dia-da-mulher-negra-latino-americana-e.html
http://nosmulheresdaperiferia.com.br/noticias/trabalho-domestico-mulheres-negras-sao-a-maioria-na-categoria-e-tem-os-piores-salarios/
https://www.politize.com.br/fascismo-entenda-o-conceito-2/

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Resumo: O segredo da acumulação primitiva - Marx

Segue resumo do 1º capítulo da obra de Karl Marx: A origem do capital: A acumulação primitiva. 2ª Ed. São Paulo: Centauro, 2014. Elaborei na ocasião em que cursei a disciplina Sociologia I - Marx na faculdade de ciências sociais da UFPA, ministrado pela maravilhosa Profª Zuleide Pontes.

O segredo da Acumulação Primitiva

No primeiro capítulo desta obra, Karl Marx inicia o texto com a definição de mais-valia, pois define que a acumulação capitalista supõe a existência da mais-valia, e esta, a da produção capitalista que, por sua vez, não se pode realizar enquanto não se encontram acumuladas, nas mãos dos produtores-vendedores, massas consideráveis de capitais e de forças operárias. Este movimento ele coloca como círculo vicioso que não se pode sair sem se admitir uma acumulação primitiva anterior à acumulação capitalista, a “previous acumulations” segundo Adam Smith.

Faz o comparativo desta acumulação primitiva e seu desempenho na economia política ao pecado original na teologia, o pecado surgiu por uma aventura onde podemos ver como e porque o homem foi condenado pelo Senhor a ganhar seu pão do suor do seu rosto, mas a do pecado econômico preenche uma lamentável lacuna revelando-nos como e porque há homens que escapam a esta ordem do Senhor, pois ganham seu pão do suor do rosto alheio. 

Marx descreve o processo de acumulação primitiva baseado nos anais da história real, em que sempre prevaleceu a conquista, a dominação, a rapina à mão armada, o predomínio da força bruta, como a tomada de terras e propriedades rurais de populações originárias. Faz a crítica também aos preconceitos burgueses imbuídos nos livros de história e a diferença da definição deste processo contido no que ele descreve como manuais beatos de economia política, onde reina o idílio, onde nunca houve outros meios de enriquecimento senão o trabalho e o direito. Desta forma, ele faz uma leitura crítica dos acontecimentos para definir o surgimento da acumulação capitalista.

Para facilitar o entendimento, discorre sobre os diferentes atores no sistema capitalista, colocando por exemplo que a relação oficial entre o capitalista e o assalariado é de caráter puramente mercantil e que a essência do sistema capitalista está na separação radical entre o produtor e os meios de produção e vai se acentuando na medida que o sistema se estabelece. Assim, para que o sistema capitalista viesse ao mundo foi necessário que os meios de produção já tivessem sido arrancados sem discussão aos produtores por meio da força, e esta ordem econômica surge das entranhas da ordem econômica feudal. A dissolução de uma produziu os elementos constitutivos da outra.

Por fim, coloca que a base de toda a evolução é a expropriação dos cultivadores e que ocorreu de forma mais radical na Inglaterra, e os outros países da Europa ocidental percorrem o mesmo movimento. Na história da acumulação primitiva, faz época toda revolução que serve de alavanca ao avanço da classe capitalista em vias de formação sobretudo aquelas que, despojando as grandes massas de seus meios de produção e de existência tradicionais, as lançam de improviso no mercado de trabalho, haja visto que sem seus meios de produção se vêem obrigados a vender o único bem que restou, que é sua força de trabalho. E acrescenta que a história dessa expropriação está escrita nos anais da humanidade com letras indeléveis de sangue e fogo.

A expropriação da população primitiva

Neste capítulo o autor descreve o processo de expropriação da população primitiva na Inglaterra, onde a servidão tinha desaparecido de fato nos fins do século XIV. No século XV a imensa maioria da população era composta de camponeses livres e neste tempo a prosperidade das cidades tomou um grande impulso, atingindo um estado de abundância. Porém esta riqueza do povo excluía a riqueza capitalista.

Ao final do século XV e início do século XVI veio a revolução que ia lançar os primeiros fundamentos do regime capitalista, o licenciamento da numerosa criadagem senhorial que lançou de improviso, no mercado de trabalho, uma massa de proletários sem lar nem pão. O poder real, saído ele próprio do desenvolvimento burguês, foi levado a ativar esse licenciamento por medidas violentas, usurpando os bens comunais de camponeses e expulsando-os do solo que estes possuíam com o mesmo direito que seus senhores. O principal motivo foi a expansão das manufaturas de lã em Flandres e a alta dos preços de lã, que incentivou a transformação das terras de cultivo em pastos.

Esse processo de expropriação desolou o país e atemorizou o Parlamento, pois resultou num declínio da população, seguido da decadência de muitas vilas e igrejas e de uma diminuição dos dízimos. Através de lei de Henrique VII, que proibia a demolição de toda casa de camponês a que correspondessem pelo menos vinte acres de terra, foi o remédio encontrado para dar limite a esta expropriação, assegurando uma porção de terra suficiente para proporcionar aos indivíduos o gozo de um decente bem estar e condição não servil. Mas o sistema de produção capitalista precisava, ao contrário, da condição servil das massas, sua transformação em mercadoria e a conversão dos seus meios de trabalho em capital.

O novo impulso à expropriação violenta do povo no século XVI veio com a Reforma e confiscação dos bens da Igreja, que era proprietária feudal da maior parte do solo inglês. Os bens do próprio clero caíram nas garras dos favoritos reais e foram vendidos a preços ridículos a burgueses e arrendatários especuladores, que expulsaram os antigos colonos hereditários. O direito de propriedade dos camponeses pobres sobre uma parte dos dízimos dos eclesiásticos foi tacitamente confiscado.

Chegou ao poder o herói burguês Guilherme III, através da revolução gloriosa, e inauguraram a nova era com uma delapidação verdadeiramente colossal do tesouro público. Os domínios do Estado, roubados até esta data com moderação, foram então extorquidos à viva força do rei adventício com compensações devidas aos seus antigos cúmplices, ou vendidos a preços irrisórios, anexados a propriedades privadas. Esta foi a base de poder da atual oligarquia inglesa, os burgueses capitalistas favoreciam a operação com o fim de fazer da terra um artigo de comércio, de aumentar sua reserva de proletários do campo, etc.

A nova aristocracia latifundiária era aliada natural da nova bancocracia, da alta finança, recentemente nascida, e das grandes manufaturas, então fatores do sistema protecionista. Seus atos de rapina se prolongaram para além do século XVI e no século XVIII a própria lei se torna objeto de espoliação, o que, por outro lado, não impediu que os grandes arrendatários recorressem a outros recursos particulares, extralegais.

A forma parlamentar do roubo é de “leis sobre fechamento das terras comunais”, reduzindo o cultivo, fazendo subir o preço das subsistências e conduzindo ao despovoamento. A situação das classes inferiores do povo piorou sob todos os aspectos, os pequenos arrendatários e proprietários foram reduzidos a situação de jornaleiros e mercenários, e ao mesmo tempo, nessas condições, lhes é mais difícil ganhar o sustento.

Marx segue descrevendo o mesmo processo em terras da Escócia e em rodapé a situação na Alemanha, e encerra o capítulo resumindo que os despojos dos bens da Igreja, a alienação fraudulenta dos domínios do Estado, a pilhagem dos terrenos comunais, a transformação usurpadora e terrorista da propriedade feudal e mesmo a patriarcal, em propriedade privada moderna, a guerra às cabanas, foram os processos idílicos da acumulação primitiva. Conquistaram a terra para a agricultura capitalista, incorporaram o solo ao capital e entregaram à indústria das cidades os braços dóceis de um proletariado sem lar nem pão.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Resumo: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo - Weber

Seguindo na linha compartilhando os resumos feitos no decorrer do curso de Ciências Sociais da UFPA, venho disponibilizar este que fiz em 2017 na disciplina Sociologia III - Weber, com a professora Patrícia da Silva Santos, uma fofa! Foi uma disciplina bem proveitosa!

O resumo tem 17 laudas e pode ser acessado ao clicar na imagem abaixo


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Textos para formação política

Grande companheira, jovem, negra, de luta e liderança da JPT-PA, Beatriz Caminha, fez um compêndio de diversos textos para formação política bem direcionado a quem participa ou deseja participar de organizações políticas ou movimentos sociais. Ela afirma já ter lido todos e se dispõe a bater um papo sobre seus conteúdos (um dia eu chego lá, mana! hehe!). Também vou ler e enriquecer o conhecimento para nossa luta concreta, precisamos avançar no processo democrático e deter o avanço conservador por meio da leitura e da reflexão, da crítica, pra orientar nossas ações. Parabéns pela iniciativa, compartilho aqui para ajudar no alcance e não perder de vista =)

Pra ter acesso aos textos, basta clicar na foto da bunita aqui ===>

Montei uma lista com os títulos e referências bibliográficas dos textos que estão dentro do link, pra facilitar na busca dos textos que deseja colocar na ordem de prioridade para leitura. Os textos estão divididos em três pastas, não consegui pegar a referência completa de todos, mas quem souber e quiser colaborar é só comentar!

Boa leitura!!!! E valeu, Bia!

Ferramentas de Análise:
Eleições e Comportamento Digital do Cidadão: Uma Perspectiva Analítica Sobre a Propaganda Ideológica do Personagem "Haddad Tranquilão". MACEDO, Roberto G.; DUARTE, Leonardo J. Casadilho. Trabalho apresentado ao GT 1 - Propaganda política e ideológica do XII Congresso Brasileiro de Comunicação Política e Marketing Eleitoral - Rio de Janeiro - 2015. 15 pág.

Política, Sociedade e Meios de Comunicação - Armadilha e Ilusões. Fundação Perseu Abramo - Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas -Aula 4 - Prof. Reginaldo Moraes. 10 pág.

Planejamento de Projetos e Ação Política. Fundação Perseu Abramo - Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas - Aula 3 -  Prof. Greiner Teixeira Marinho Costa. 16 pág.

Estrutura de Agenda para a Gestão Estratégica. Costa, Greiner.  2003. 14 pág.

Comportamento Digital e Comunicação Governamental: Uma Análise dos Governos das Cidades de Buenos Aires e São Paulo. MACEDO, Roberto G.; DUARTE, Leonardo J. Casadilho.  Trabalho apresentado no V Colóquio Binacional Brasil Argentina de Comunicação. 14 pág.

Como Fazer Análise de Conjuntura. Fascículo 3 - Programa de Formação da CNTE - SANTIAGO, Cláudia.; MORAES, Reginaldo Carmello.  2008. 64 pág.


Conjuntura e Resistência:
- Políticas Sociais, Desenvolvimento e Cidadania. Ana Fonseca, Eduardo Fagnani (orgs.). São Paulo. Editora Perseu Abramo, 2013. 305 pág.

- O Direito à Cidade. MARICATO, Ermínia. 8 pág.

- Judicialização da Política. TONELLI, Maria Luiza Quaresma. Coleção O Que Saber. Fundação Perseu Abramo. São Paulo, 2016. 57 pág.

- Globalização, Neoliberalismo e Neoliberalismo no Brasil. Fundação Perseu Abramo - Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas - Aula 1 -  Prof. Eduardo Tadeu. 22 pág.

- Construção do Golpe e a Reação Democrática.

- Lula e Dilma - 10 Anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil. FLACSO. 386 pág.


Brasil e Seus Desafios:
- Sindicatos e Movimentos Sociais Pós-64. JACOBSEN, Kjeld Aagaard.
Texto Introdutório do Curso de Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas. Fundação Perseu Abramo. 3 pág.

- Sentido da Colonização. Caio Prado Júnior. 14 pág.

- Política e Partidos Políticos. Valter Pomar. 14 pág.

- Partidos Políticos no Brasil. GENOÍNO, José. Texto Introdutório do Curso de Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas. Fundação Perseu Abramo. 3 pág.

- Os Caminhos do Novo Internacionalismo Operário.

- O Sistema Eleitoral e Partidário do Brasil. 5 pág.

- O Protagonismo da Sociedade Civil Brasileira. GOHN, Maria da Glória. O Protagonismo da Sociedade Civil - Movimentos Sociais, ONGs e Redes Solidárias. 32 pág.

Cadeias Globais de Produção e Ciclos de Modernização no Padrão de Consumo do Brasileiro. In: O Mito da Grande Classe Média - Cap.3 -  POCHMANN, Márcio. 23 pág.

- O Mau Ladrão. Ficha Suja. Burocracia, favorecimentos, nepotismo, atividades escusas e outras heranças dos tempos coloniais no Brasil. BUENO, Eduardo. 9 pág.

- A Reversão de Um Modelo Predatório de Estado. In: O Governo Lula e o Novo Papel do Estado Brasileiro. FARIA, Glauco. Editora Fundação Perseu Abramo, 2010. 17 pág.

- O Brasil Contemporâneo. 5 pág.

- Nova Estrutura de Classes no Brasil. NOZAKI, William. Texto Introdutório do Curso de Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas. Fundação Perseu Abramo. 4 pág.

- História do Estado Brasileiro. AZEVEDO, Andrea. Texto Introdutório do Curso de Difusão de Conhecimento em Gestão e Políticas Públicas. Fundação Perseu Abramo. 8 pág.

- É Preciso Partido. 4 pág.

- A Sociedade Brasileira Foi Infantilizada. Entrevista com Jessé Souza. Revista Caros Amigos, Janeiro 2016. 5 pág.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Praia do Lembe - Marapanim-PA

Viajar! Uma das coisas que mais amo nessa vida é viajar! E nem os tempos de crise vão me impedir, pois vamos mesmo de pic-nic! Muita farofa e isopor pra carregar e economizar na conta! Haha!
Depois das férias que me dei nas leituras e escrivinhações, retorno agora ao blog pra contar da última edição do nosso já tradicional pic-nic dos amigos e amigas da GPREC/SEDUC, que desta vez, atendendo à sugestão de nossa amiga Maria Helena Barbosa, foi para a praia do "Me Lembe" em Camará, Marapanim. Organizo estes passeios desde 2016, ano que fomos para Salinas, em 2017 para Ajuruteua e este ano de 2018 para São João de Pirabas, praia da Croa Nova. Decidimos a partir deste ano escolher destinos que a maioria dos participantes ainda não conhecem, com a intenção de desbravar nosso lindo Pará, contemplar sua beleza natural, sem pesar muito no nosso bolso!

Divulgação do passeio
Chegamos por volta de 8:30h e fizemos uma pequena travessia de barco (na volta viemos caminhando, pois a maré tava baixa), e nos deparamos com a encantadora praia do "Me Lembe". A praia se compõe de linda areia branca com um mangue por trás, onde guarás e garças se alimentam e somam com a beleza do lugar. Do outro lado, observamos uma margem com linda areia branca, porém sem estrutura de restaurantes, que os pescadores nos levam pra conhecer de rabeta por 10 reais, infelizmente não tivemos tempo de desbravar. Foi um dia de muito sol e diversão com os amigos e família! Minha Mariana aproveitou cada minuto, na companhia de amiguinhos que fez durante o dia. Ela não perde nenhum passeio! Porém, ela chegou numa fase que nos mata de aflição, em que a criança em raios de segundos desaparece da nossa vista e o coração só falta sair pela boca quando se dá conta do repentino sumiço. Pude contar com o apoio da família e de todos os amigos que me ajudavam a não perder de vista a pequenina.

Cenas como esta duram cerca de 5 minutos
A praia conta com a estrutura de barracas de palha e restaurantes administrados pelos nativos, com deliciosa comida, bebidas e preços honestos, muito peixe assado, frito, caranguejo e uma excelente farofa de ovo, aprovada por mim e pelas crianças! hehe! Porém, a estrutura de saneamento é bastante precária, resultante do descaso do poder público com o turismo em nosso estado.

Um brinde à vida!
O que ganha destaque e muitos cliques são as redes armadas na beira da praia, a maré sobe, a água nos alcança e as ondas vêm nos "lember". O nome da praia "me lembe" se origina daí, da maré que "me lembe" ao subir, pelo linguajar popular dos pescadores.

Aguardando minha "lembida"
O pic nic é uma excelente oportunidade para nos confraternizar e poder conversar sobre muitas coisas, pois passamos boa parte do nosso dia juntos no trabalho e neste momento de lazer podemos nos encontrar quanto pessoas, com nossos problemas, qualidades, defeitos, gente como a gente, e aproveito para debater sobre vários assuntos, conversamos de respeito ao outro, convivência, feminismo e política, lógico, que é a minha praia! Desta vez fui conversar sobre eleições. Acaba por se tornar um descontraído momento de formação =)

Aproveito pra além de papear, provar da variedade de tira-gostos e farofas que os mais precavidos carregam, tudo delicioso! Por ser organizadora e mãe de uma pequena, acabo ganhando essa "pré" e tenho a benesse de tomar uma cerveja de cortesia com meus colegas de trabalho. Coisa boa é poder compartilhar! 

A pior parte é ter que ir embora. Gente que já tá cansada do sol deseja ir, e quem ainda está curtindo tomando umas geladas não quer ir embora de jeito nenhum! Vou administrando os quereres e conseguimos embarcar de volta sem grandes atrasos. Combinamos uma parada no igarapé pra "tirar o sal" do corpo e podermos voltar tranquilos pra seguir na farra ou tirar uma soneca.

Tirando o sal
Desta vez a volta foi uma novela! O ônibus "deu prego" umas trocentas vezes e ficamos na estrada torcendo pra voltar a funcionar! haha! Até que definitivamente deu pane total no início da Almirante Barroso, em que os últimos passageiros tiveram que tomar outra condução para as suas casas. Ainda bem que conseguimos chegar em Belém, sempre com muitas histórias pra contar!

Muito obrigada a quem topou mais uma aventura! É uma delícia a semana de expediente após o passeio, com muitas risadas sobre os "causos", os elogios pelo lindo passeio e a ansiedade pelo próximo, onde tenho que ouvir sempre um "Carla, quando vai ser o próximo?". Não resisto e acabo topando mais um! Vale muito a pena! Dá um trabalhinho pra organizar, chega me arrependo na véspera do passeio, mas logo essa sensação passa e é substituída pela alegria de viajar em coletivo. Até a próxima!!!


Informações:
Marapanim fica à 144 km de Belém, cerca de 3h de viagem pela BR-316 e PA-136
Ônibus sai do terminal rodoviário diariamente pela empresa Princesa Morena: R$ 30,00
Travessia de rabeta: R$ 1,00
Travessia para a praia da margem em frente do "Me Lembe": R$ 10,00
Preços dos restaurantes da praia:
Cerveja 600ml: R$ 8,00
Peixe frito ou assado c/ guarnição 2 pessoas: R$ 35,00
Porção de 6 caranguejos com guarnição: R$ 25,00
Farofa de ovo porção 2 pessoas: R$ 10,00

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Dia da mulher negra latino-americana e caribenha

Escrevi este texto em 2016 com minha amiga preta de luta, irmã, camarada, Gabi Leão, postado originalmente no blog da MMM-PA:

A MULHER NEGRA É A MAIOR VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NO BRASIL

Segundo dados do último mapa da violência, elaborado em 2015 pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, o homicídio de mulheres negras aumentou 54% em 10 anos, enquanto que o de brancas reduziu 10% no mesmo período, além de evidenciar que a mulher negra também é a maior vítima de estupro. Mas por que as negras são as maiores vítimas?

Assim como os demais países latino-americanos, o Brasil ainda sofre com o racismo estrutural e estruturante em nossa sociedade, fruto de uma cultura escravocrata e colonialista. A população negra não recebeu nenhum tipo de atenção ou política de integração com o fim da escravidão, sendo jogados à margem da sociedade. Para as mulheres negras a situação é pior, pois além de serem vítimas de racismo, sofrem com a violência sexista, sendo utilizadas como objeto sexual por séculos, formando uma cultura que se arrasta até os dias atuais. Em resumo, a camada social mais pobre e marginalizada é a que mais sofre com a violência.

Em face desta situação, uma forte articulação de mulheres nas áreas de comunicação, cultura, acadêmica e afins na América Latina e Caribe organizou o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas em 1992 na República Dominicana, que resultou na criação de uma Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a celebração do dia 25 de Julho como Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha, internacionalizando assim o debate do feminismo negro, que surgiu a partir da década de 70, impondo a necessidade de interseccionalidade de gênero, raça, classe, etnia, orientação sexual e religiosidade, significando assim uma ruptura com um feminismo que não nos contempla, que historicamente foi hegemonizado por mulheres brancas e de classe alta.

Neste dia, pretendemos dar visibilidade à vulnerabilidade da mulher negra em nossa sociedade marcada pelo racismo patriarcal heteronormativo, que vitimiza de forma desproporcional a população de mulheres negras e pobres, além de lutar para o fomento de políticas que venham a atender esta camada e possamos diminuir os índices de violência apontados. As mulheres negras seguem em marcha neste dia pois precisamos dialogar sobre esta problemática.

O protagonismo das mulheres negras no movimento feminista é outro ponto que temos que dialogar. Cadê elas no movimento? E quando estão, quais os papeis delegados às companheiras das quebradas, das periferias, as nossas irmãs negras? Precisamos das vozes das negras, das suas pautas, que são violadas cotidianamente nesse sistema. Até quando, irmã branca, tu vais querer monopolizar a fala? Não é pra diluir o movimento, mas temos que ser diversas em nossas vozes, em nossas lutas, em nossos olhares. Todas são bem vindas pra chegar e construir o movimento feminista, precisamos muito unir forças, mas jamais monopolizar as pautas. Somos muitas e diversas! Não podemos esquecer que temos que passar o bastão do movimento para todas, e nesta luta seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

E vamos marchar hoje no Guamá. Participe:


  

terça-feira, 10 de julho de 2018

Medo

Do teu cheiro que sinto
Relembro do beijo
Me queima o desejo, não minto
De tê-los mais e mais

A doçura do olhar
Põe à face um menino
A inocência de belos sorrisos
Em homem se transforma
Na firmeza dos gestos
Me delicia ao me tocar

Doce perdição de caminhos
Êxtase comunhão de prazeres
Até a razão admite
A necessidade de transpor limites
E reinventar a felicidade

Tenho medo de gostar de certos sorrisos, destes assim que a alma se perde e desaparta da razão. Daqueles sorrisos que acompanham um olhar escancarado, que não consegue enganar, que revela toda a doçura e bons sentimentos que te querem.
Mas o medo não pode impedir almas livres, o medo aprisiona, sufoca, emperra. O medo é inimigo da liberdade, uma pena é a covardia do ser em não superar alguns, e beleza é estar disposta a ultrapassá-los. Que a liberdade domine!
Escritos de 2011.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Resumo: Os intelectuais e a organização da cultura - Gramsci

Fiz este resumo em 2016 quando cursei a disciplina Sociologia I com a Profª Zuleide Pontes, sendo um resumo pessoal auxiliar aos meus estudos, sem alto rigor das normas da ABNT. Foi passado somente a primeira parte do livro "Os intelectuais e a organização da cultura", de Antônio Gramsci, seção intitulada "A formação dos intelectuais". Como o resumo abaixo é somente um aperitivo às ideias do filósofo italiano, disponibilizo também link da obra completa na figura:


A formação dos intelectuais
A obra se inicia definindo quem são os intelectuais, de onde são e como se formam, problematizando através do questionamento se constituem um grupo social autônomo e independente ou se possuem sua própria categoria especializada. Conclui dizendo ser complexo o problema devido as várias formas que assumiu o processo histórico real de formação das diversas categorias intelectuais.
      Desta forma, destaca duas importantes formas: 1) Cada grupo social, nascendo no mundo originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político. O empresário capitalista cria consigo o técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, ele deve possuir certa capacidade técnica e de organizar a sociedade em geral, em todo seu complexo organismo de serviços, inclusive no estatal, em vista da necessidade de criar as condições mais favoráveis à expansão da própria classe. Os senhores feudais também eram detentores de uma capacidade técnica particular, a militar, que precisa ser analisada a parte, porém cabe observar que a massa de camponeses não elabora seus próprios intelectuais “orgânicos” embora outros grupos sociais extraiam dessa massa seus intelectuais.

  2) Cada grupo social “essencial” encontrou categorias intelectuais preexistentes, as quais apareciam como representantes de uma continuidade histórica que não fora interrompida nem mesmo pelas mais complicadas e radicais modificações das formas sociais e políticas. A mais típica destas é a dos eclesiásticos, que monopolizaram durante muito tempo alguns serviços importantes: a ideologia religiosa, isto é, a filosofia e a ciência da época, através da escola, da instrução, da moral, da justiça, da beneficência.
      A categoria dos eclesiásticos é a categoria intelectual organicamente ligada à aristocracia fundiária, que era juridicamente equiparada à aristocracia e com a qual dividia o exercício da propriedade feudal da terra e o uso dos privilégios estatais ligados à propriedade. Porém o monopólio das superestruturas pelos eclesiásticos não foi exercido sem luta e sem limitações, e foi-se formando a aristocracia togada.
    Outro questionamento está no campo dos limites “máximos” da acepção de “intelectual”. Se é possível criar um critério unitário para caracterizar igualmente todas as diversas e variadas atividades intelectuais, além de distingui-las ao mesmo tempo e de modo essencial dos outros agrupamentos sociais. Este responde dizendo que o erro metodológico mais difundido consiste em ter buscado este critério de distinção que é intrínseco às atividades intelectuais, ao invés de busca-lo no conjunto de sistema de relações no qual estas atividades se encontram, no conjunto geral das relações sociais.
  Em suma, todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais. Enfatiza-se a distinção entre intelectuais e não intelectuais, que na realidade faz-se referência tão somente à imediata função social da categoria profissional dos intelectuais. Todo homem fora de sua profissão desenvolve uma atividade intelectual qualquer e portanto não se pode separar o homo faber do homo sapiens, é impossível falar de não-intelectuais porque estes não existem.
    O problema da criação de uma nova camada intelectual consiste em elaborar criticamente a atividade intelectual que existe em cada um em determinado grau de desenvolvimento, modificando sua relação com o esforço muscular-nervoso no sentido de um novo equilíbrio e conseguindo-se que o próprio esforço muscular-nervoso, enquanto elemento de uma atividade prática geral, que inova continuamente o mundo físico e social, torne-se o fundamento de uma nova e integral concepção de mundo. 
  Historicamente formam-se categorias especializadas para o exercício da função intelectual, formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas especialmente em conexão com os grupos sociais mais importantes, e sofrem elaborações mais amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante. A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis, quanto mais extensa for a “área” escolar e quanto mais numerosos forem os “graus” “verticais” da escola, tão mais complexo será o mundo cultural, a civilização, de um determinado Estado.
  A relação entre os intelectuais e o mundo da produção não é imediata, como é o caso nos grupos fundamentais, mas é “mediatizada”, em diversos graus, por todo o contexto social, pelo conjunto das superestruturas, do qual os intelectuais são precisamente os “funcionários”. Por enquanto, pode-se fixar dois grandes “planos” superestruturais: o que pode ser chamado de “sociedade civil”, isto é, o conjunto de organismos chamados comumente de “privados” e o da “sociedade política ou Estado”, que correspondem à função de “hegemonia” que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de “domínio direto” ou de comando, que se expressa no Estado e no governo “jurídico”. Estas funções são precisamente organizativas e conectivas, os intelectuais são os “comissários” do grupo dominante para o exercício das funções subalternas da hegemonia social e do governo político. Esta colocação do problema traz, como resultado, uma ampliação muito grande do conceito de intelectual, mas somente assim torna-se possível alcançar uma aproximação concreta à realidade.
     No mundo moderno, a categoria dos intelectuais ampliou-se de modo inaudito, a formação em massa estandartizou os indivíduos, na qualificação intelectual e na psicologia, determinando os mesmos fenômenos que ocorrem em todas as outras massas estandartizadas: concorrência, desemprego, superprodução escolar, emigração, etc.
       O texto segue fazendo diferenciação entre os intelectuais de tipo urbano e de tipo rural. No primeiro cresceram juntamente com a indústria e são ligados às suas vicissitudes, não possuem nenhuma iniciativa autônoma na elaboração dos planos de construção, colocam em relação, articulando-a, a massa instrumental com o empresário, elaboram a execução imediata do plano de produção estabelecido pelo estado maior da indústria, controlando suas fases executivas elementares. Os de tipo rural são em sua maior parte “tradicionais”, ligados à massa social camponesa e pequeno-burguesa das cidades, ainda não elaborada e movimentada pelo sistema capitalista: este tipo de intelectual põe em contato a massa camponesa com a administração estatal ou local e por isso possui uma grande função político-social, já que a mediação profissional dificilmente se separa da mediação política. Este aspecto é diverso no que diz respeito aos intelectuais urbanos, os técnicos de fábrica não exercem nenhuma função política sobre as massas instrumentais, por vezes ocorre o contrário, as massas instrumentais exercem influência política sobre os técnicos.
      O ponto central da questão continua a ser a distinção entre intelectuais como categoria orgânica de cada grupo social fundamental e intelectuais como categoria tradicional. Daí o autor problematiza através da influência do partido político, o que ele se torna em relação ao problema dos intelectuais? Para isto, distingue que para alguns grupos sociais o partido político é o modo próprio de elaborar sua categoria de intelectuais orgânicos diretamente no campo político e filosófico, e já não mais no campo da técnica produtiva. E para todos os grupos o partido político é precisamente o mecanismo que representa na sociedade civil a mesma função desempenhada pelo Estado, de um modo mais vasto e mais sintético, na sociedade política, ou seja, proporciona a fusão entre os intelectuais orgânicos de cada grupo – o grupo dominante – e os intelectuais tradicionais.
    Pode-se dizer que no seu âmbito o partido político desempenha sua função muito mais completa e organicamente do que, num âmbito mais vasto, o Estado desempenha a sua: um intelectual que passa a fazer parte do partido político de um determinado grupo social confunde-se com os intelectuais orgânicos do próprio grupo, liga-se estreitamente ao grupo, o que não ocorre através de participação na vida estatal senão mediocremente ou mesmo nunca. Aliás, ocorre que muitos pensem ser o Estado: crença esta que, dado o imenso número de componentes da categoria, tem por vezes notáveis consequências e leva a desagradáveis complicações para o grupo fundamental econômico que é realmente o Estado.
   A formação dos intelectuais tradicionais é o problema histórico mais interessante. Ele se liga certamente à escravidão do mundo clássico e à posição dos libertos de origem grega e oriental na organização social do Império Romano. Na Itália, o fato central é precisamente a função internacional ou cosmopolita de seus intelectuais, que é causa e efeito do estado de desagregação em que permanece a península, desde a queda do Império Romano até 1870. Na França as primeiras células intelectuais do novo tipo nascem com as primeiras células econômicas, a própria organização eclesiástica sofre sua influência, essa maciça construção intelectual explica a função da cultura francesa nos séculos XVIII e XIX. Na Inglaterra o desenvolvimento é muito diferente, o novo agrupamento social nascido sobre a base do industrialismo moderno tem um surpreendente desenvolvimento econômico-corporativo, mas engatinha no campo intelectual-político, é muito ampla a categoria dos intelectuais orgânicos, isto é, dos intelectuais nascidos no mesmo terreno industrial do grupo econômico. A velha aristocracia fundiária se une aos industriais através de um tipo de junção que, em outros países, é precisamente aquele que une os intelectuais tradicionais às novas classes dominantes.
   O fenômeno inglês manifestou-se também na Alemanha, complicado por outros elementos históricos e tradicionais. O desenvolvimento industrial ocorreu sob um invólucro semifeudal e os Junkers foram os intelectuais tradicionais dos industriais alemães que mantiveram uma supremacia político-intelectual bem maior do que a mantida pelo mesmo grupo inglês. Na Rússia, diversas tendências, a organização política e econômico-comercial foi criada pelos normandos, a religiosa pelos gregos bizantinos. Num segundo momento, alemães e franceses levam a experiência europeia à Russia e emprestam um primeiro esqueleto consistente à gelatina histórica russa.
     Num outro terreno e em condições bem diversas de tempo e lugar vem o nascimento da nação americana (Estados Unidos): os emigrantes anglo-saxões são também uma elite intelectual, mas particularmente moral. O autor refere-se aos primeiros emigrantes, aos pioneiros, protagonistas das lutas religiosas e políticas inglesas, derrotados, mas nem humilhados nem rebaixados em sua pátria de origem. Eles trazem para a América além da energia moral e volitiva, um certo grau de civilização, uma certa fase de evolução histórica europeia que continua a desenvolver com um ritmo mais rápido que na velha Europa, onde existe toda uma série de freios morais, intelectuais, políticos, econômicos, incorporados em determinados grupos da população, relíquias dos regimes passados que não querem desaparecer). Deve-se notar então nos Estados Unidos em certa medida a ausência dos intelectuais tradicionais e portanto, o diverso equilíbrio dos intelectuais em geral. Esta ausência explica parcialmente tanto a existência de somente dois grandes partidos políticos, quanto, ao inverso, a multiplicação ilimitada de seitas religiosas.
  A formação de um número surpreendente de intelectuais negros, que absorvem a cultura e a técnica americanas é uma manifestação que deve ser estudada, a pensar na influência indireta destes sobre as massas atrasadas da África e na influência direta que se verificaria se o expansionismo americano se servisse dos negros nacionais como seus agentes na conquista dos mercados africanos e se as lutas pela unificação do povo americano se agudizassem a tal ponto que determinasse o êxodo dos negros com retorno à África dos elementos intelectuais mais independentes e enérgicos.
      Na América do Sul e na América central inexiste uma ampla categoria de intelectuais tradicionais, mas o problema não se apresenta nos mesmos termos que nos Estados Unidos. Na base de desenvolvimento desses países estão os quadros da civilização espanhola e portuguesa dos séculos XVI e XVII, caracterizada pela contra-reforma e pelo militarismo parasitário. A base industrial é muito restrita e a maior parte dos intelectuais é de tipo rural, com extensas propriedades eclesiásticas, tais intelectuais são ligados ao clero e aos grandes proprietários. A composição nacional é muito desequilibrada mesmo entre os brancos e complica-se pela imensa quantidade de índios, além da situação no qual o elemento laico e burguês não alcançou o estágio da subordinação, à politica laica do Estado moderno, dos interesses e da influência clerical e militarista, e em oposição ao jesuitismo possui ainda grande influência a Maçonaria e a Igreja positivista.
         Outros tipos de formação da categoria dos intelectuais pode ser encontradas na Índia, na China e no Japão. No último, formação do tipo inglês e alemão, na China existe o fenômeno da escritura, expressão da completa separação entre os intelectuais e o povo, assim como na Índia onde essa enorme distância manifesta-se no campo religioso. E pela religião Gramsci encerra observando a diferenciação no mundo todo na questão formativa dos intelectuais.

domingo, 1 de julho de 2018

Resumo: A escola como espaço sócio-cultural - Dayrell

Este texto é de autoria de Juarez Dayrell, professor da Faculdade de Educação da UFMG, escrito em 1996, sobre a pesquisa que o mesmo fez em escolas públicas de funcionamento noturno na periferia da região metropolitana de Belo Horizonte. Vem tratar da escola como espaço sócio-cultural e suas potencialidades educativas no que cerne a observação da interação das relações sociais existentes dentro e fora da escola, dando ênfase à diversidade dos alunos e desta forma a variação cultural e as experiências diferenciadas que carregam consigo, além de fazer críticas à estrutura física e mal aproveitamento das potencialidades educacionais. Segue abaixo o resumo deste texto a ser apresentado na 2ª avaliação da disciplina Antropologia da Educação, ministrada pelo Prof. Leandro Klineyder, na Faculdade de Ciências Sociais da UFPA.

A ESCOLA COMO ESPAÇO SÓCIO-CULTURAL

INTRODUÇÃO
            O presente texto lança análises e considerações sobre a escola como espaço sócio-cultural. Para isto procura entender o que é a escola pela ótica institucional, da cultura, do espaço físico, e o conjunto das relações sociais que se estabelecem no interior e no exterior da escola e como estas são determinantes para o processo educativo. Analisa o espaço físico, arquitetura e suas influências nas interações dessas relações, o papel do professor e do aluno, o método educativo que não contribui para o saber questionador, mostrando-se linear e materializado em conteúdos de programas e livros escolares. Trata do potencial que a escola possui em ampliar a transmissão de saberes através das relações e suas trocas de experiências.

1-  PRIMEIROS OLHARES SOBRE A ESCOLA
            O significado de entender a escola como espaço sócio-cultural repousa no sentido de compreendê-la pela ótica da cultura, com olhar mais denso que leva em conta a dimensão do dinamismo do cotidiano, em todos os espaços, pessoas de todas as partes, idades, implicando assim em resgatar o papel dos sujeitos na trama social que a constitui enquanto instituição. Isto expressa um eixo de análise surgida a partir da década de 80 que tentava superar as análises mais deterministas, desenvolvendo uma análise em que se privilegia a ação dos sujeitos na relação com as estruturas sociais.
            Neste sentido, a escola como espaço sócio-cultural é entendida como espaço social próprio, ordenado em dupla dimensão, resultando de um conflito de interesses em que de um lado está a escola como instituição, organização oficial escolar com suas regras e normas, e de outro as tramas de relações sociais que os sujeitos participantes da escola carregam, incluindo alianças e conflitos, imposições de estratégias individuais ou coletivas, transgressão ou acordos, sendo assim, um processo heterogêneo fruto da ação recíproca entre o sujeito e a instituição.
            A cada instante é recolocado a reprodução do velho e a possibilidade de construção do novo no processo educativo escolar, assim o texto segue no sentido de expressar esse olhar do cotidiano, reflete angústias e questões de professores de escolas noturnas da rede pública de ensino na periferia da região metropolitana de Belo Horizonte-MG em 1994.

2-  OS ALUNOS CHEGAM À ESCOLA
            O texto faz a descrição de um dia normal de aula no contexto externo, em que as pessoas vão chegando, conversando, formando grupos, conversas, paqueras, os sons, o comércio em volta, uma escola grande com muros altos, sendo um espaço claramente delimitado, como se passasse para o novo cenário onde serão desempenhados papéis específicos, próprios do “mundo da escola”, bem diferentes dos desempenhados no “mundo da rua”.

2.1 – A DIVERSIDADE CULTURAL
            Para grande parte dos professores, não são levados em conta aspectos pessoais dos alunos, pois estes são vistos como uma massa homogênea, alunos, independente de cor, sexo, idade, origem social, pois entendem que a instituição escolar deveria atender todos da mesma forma, sendo assim essa homogeneização correspondente à homogeneização da instituição escolar, compreendida como universal.
            Neste sentido, existe uma desarticulação entre o conhecimento escolar e a vida dos alunos, haja vista que o próprio sistema de funcionamento da escola propicia isto. O conhecimento escolar se torna “objeto” ao ser materializado nos programas e livros didáticos, sendo valorizadas as provas e notas devido à ênfase ser centrada nos resultados da aprendizagem e não no processo, tornando assim a visão de conhecimento como um produto. Expressa assim uma lógica instrumental que reduz a compreensão de educação e seus processos em transmissão de informações. O mesmo método é aplicado em diferentes públicos, em diversos lugares, e este tratamento uniforme só vem consagrar a desigualdade e as injustiças das origens sociais do aluno.
          Para superar essa visão homogeneizante e estereotipada da noção de aluno implica-se outra forma de compreender esses jovens, apreende-los como sujeitos sócio-culturais, para compreendê-los na sua diferença enquanto indivíduo que carrega sua história e tem suas particularidades, levando em conta a dimensão da “experiência vivida” que é matéria prima a partir da qual os jovens articulam sua própria cultura, aqui entendida enquanto conjunto de crenças, valores, visão de mundo, rede de significados.
         Tomando por base que nenhum indivíduo nasce homem, mas constitui-se e se produz como tal, num processo contínuo de passagem da natureza para cultura, sendo construído e se construindo enquanto ser humano, como se dá essa produção na sociedade concreta?
       Já existia uma sociedade quando qualquer um desses jovens nasceu e foi inserido, cuja estrutura não dependeu dele e nem por ele foi produzida. A princípio são as macroestruturas que vão apontar um leque mais ou menos definido de opções em relação a um destino social. Mas também existe a outro nível a interação na vida social cotidiana com suas próprias estruturas, com suas características próprias, sendo o nível do grupo social que produz uma cultura própria. Isto se reflete nas novas experiências de relações familiares diferentes, morar em outro bairro, estudar em outra escola, num constante reiniciar das relações, configurando um processo educativo amplo que ocorre no cotidiano das relações sociais, e os jovens alunos são resultado disso. Apesar da aparência de homogeneidade, expressam a diversidade cultural: uma mesma linguagem pode expressar múltiplas falas.
            Desta forma, afirma-se que “são as relações sociais que verdadeiramente educam, isto é, formam, produzem os indivíduos em suas realidades singulares e mais profundas. Nenhum indivíduo nasce homem. Portanto, a educação tem um sentido mais amplo, é o processo de produção de homens num determinado momento histórico...” (Daryrell, 1992, p.2). Diante desta ampla diversidade de experiências, marcadas pela própria divisão social do trabalho e das riquezas que vai delinear as classes sociais, constitui-se dois conjuntos culturais básicos: a oposição cultura erudita x cultura popular.
            Vale ressaltar que a diversidade cultural nem sempre pode ser explicada apenas pela dimensão das classes sociais, levando-se em conta uma leitura mais ampla sobre as tradições e valores. Na sociedade brasileira a diversidade cultural também é fruto do acesso diferenciado às informações e às instituições que asseguram a distribuição dos recursos materiais, tendo assim também uma conotação político-ideológica.
            Por fim, essas considerações sobre a diversidade cultural dos alunos implicam constatar num primeiro aspecto que a escola é polissêmica, tem uma multiplicidade de sentidos, e o segundo aspecto reside na articulação entre a experiência que a escola oferece na forma como estrutura o seu projeto político pedagógico e os projetos dos alunos. Neste sentido, a escola não poderia ser um espaço de ampliação de experiências? Além dessa questão, quais seriam os espaços e momentos que poderiam contribuir para que o aluno se situe em relação ao mundo que vive? Resgatando assim a função social da escola e seu processo de formação de cidadãos. Surge o desafio sob esta ótica de deslocar o eixo central da escola para o aluno como adolescentes e adultos reais.

3 – AS MÚLTIPLAS DIMENSÕES EDUCATIVAS DO ESPAÇO ESCOLAR
            É feita a descrição da escola no iniciar do turno, no sentido das interações sociais, sozinhos ou em grupos, com a movimentação dos alunos pela escola. Descreve também a estrutura física da escola, que se julga no seu conjunto um espaço físico rígido, retangular, frio, pouco estimulante, com paredes lisas, sem nenhum apelo.
                                  
4.1 – A ARQUITETURA DA ESCOLA
            O espaço arquitetônico da escola expressa uma determinada concepção educativa, pois a arquitetura escolar interfere na forma da circulação das pessoas, na definição de funções para cada local. Em seguida, analisa alguns aspectos como o seu isolamento do exterior, demarcando duas realidades: o mundo da rua e o mundo da escola. Os corredores são pensados para uma locomoção rápida, contribuindo para a disciplinação, bibliotecas em espaços reduzidos. E nesta realidade os alunos passam a ocupar esses espaços e interagir com os mesmos no sentido de dar novos usos, recriando sentidos e suas próprias formas de sociabilidade.
            Desta forma, a geografia escolar para os alunos, e com isso a própria escola, têm um sentido próprio, que pode não coincidir com o dos professores. Importante que também os professores resignificam esses espaços. Vale ressaltar que por mais que se resignifique, existe um limite que muitas vezes restringe a dimensão educativa da escola, por isso se faz importante uma discussão sobre a dimensão arquitetônica em um projeto de escola, estando atento a como os sujeitos ocupam os espaços.

4.2 – A DIMENSÃO DO ENCONTRO
            O que até então foi descrito revela que a escola é essencialmente um espaço coletivo, de relações grupais. Essas relações variam dependendo do momento em que ocorrem, seja fora ou dentro da escola, por exemplo, há um clima diferente entre o encontro do início das aulas e da hora da saída. A sala de aula é um local de encontro, mas com características diferentes, onde passam a se definir por território, formando subgrupos chamados “panelinhas” e estes permanecem por pelo menos um ano.
            Desta forma, pode-se dizer que “a escola se constitui de um conjunto de tempos e espaços ritualizados. Em cada situação, há uma dimensão simbólica, que se expressa nos gestos e posturas acompanhados de sentimentos. Cada um dos seus rituais possui uma dimensão pedagógica, na maioria das vezes implícita, independente da intencionalidade ou dos objetivos explícitos da escola.” (Daryrell, 1996)
      Também trata dos rituais, como a semana de provas e os ligados à datas comemorativas, que são momentos que exigem maior dedicação dos professores e envolvimento dos alunos. A semana do estudante, dia dos professores, das mães servem para fortalecer emocionalmente alunos e professores, e a semana da pátria vem como forma de injetar uma renovação do compromisso com as motivações e valores dominantes.
            Conclui que a escola se torna um espaço de encontro entre iguais, possibilitando a convivência com a diferença, e olhá-la pelo prisma do cotidiano permite vislumbrar a dimensão educativa presente no conjunto das relações sociais que ocorrem no seu interior.

4 – A DIMENSÃO DO CONHECIMENTO DA ESCOLA
            É feita uma descrição da sala de aula no âmbito de seu funcionamento ao iniciar o primeiro turno de aula. Esta aula servirá de base para as considerações seguintes: em primeiro momento a constatação da rotina asfixiante e a chatice que são obvias. Coloca que a sala de aula é um conjunto de alunos, uns mais interessados, outros nem pouco interessados, em constante bagunça, e os professores uns mais envolvidos que outros, mais criativos ou tediosos.
 Chama atenção para os papeis de aluno e de professor, que esses papeis não são dados, mas sim construídos, onde a sala de aula é o espaço privilegiado. São assim construídas imagens e estereótipos dos alunos, influenciados por suas posturas e discursos, interferindo na produção de “tipos” de alunos e da própria turma. Nessa criação de papeis e imagens é que geralmente se expressam com mais clareza os preconceitos e racismos existentes nas relações e mesmo as questões sexuais, com ênfase no homossexualidade e na prostituição.
Outro eixo importante de análise se refere ao cotidiano das aulas e a relação com o conhecimento. A sala se resume a uma relação simples e linear para a boa parte dos professores com seus alunos, por serem vistos de forma homogênea como já abordado. O professor não percebe a dimensão do conjunto das relações  que se estabelecem ali na sala, percebendo-os somente enquanto seres de cognição e de forma equivocada, por sua maior ou menor disciplina, maior ou menor capacidade de aprender conteúdos.
Desta forma, os professores presos a esta forma de lidar com os conteúdos, deixam de contribuir no processo de formação mais amplo, como interlocutores desses alunos diante de suas crises cotidianas e suas perplexidades. Além da postura pedagógica, ressalta também a qualidade dos conhecimentos e conteúdos ministrados na escola, pois o que se observa que é oferecido ao aluno trata-se de uma versão empobrecida, diluída e degradada do conhecimento.
Os estudantes tendem a criar um próprio mundo dependendo da relação do professor com a turma, e os professores não conseguem disciplinar minimamente os alunos como na atenção, concentração. Junto a essa dimensão, outro elemento fundamental são as atividades extra-classe, nelas o prazer e o lúdico são permitidos, quando fica mais explicita a noção de uns e outros a respeito da escola, como exemplo danças em grupos, que geram mais envolvimento. Chama a atenção a escola não aproveitar desses momentos para ampliar seu trabalho educativo, relacionando com o cotidiano da sala de aula. O último aspecto se debruça na estrutura da escola, a forma como se organiza, os tempos e espaços como se dividem, pouco leva em conta a realidade e anseio dos alunos, a escola parece se organizar para si mesma.
           
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
                Foi analisado ao longo do texto um determinado olhar sobre a instituição escolar, apreendida enquanto espaço sócio-cultural, definindo a escola como uma instituição dinâmica, polissêmica, fruto de um processo de construção social. Concluindo que os atores vivenciam o espaço escolar como uma unidade sócio-cultural complexa, cuja dimensão educativa se dá nas experiências humanas ali existentes. Acreditamos que a escola pode e deve ser um espaço de formação ampla do aluno, que aprofunde seu processo de humanização, tornando-se necessária ampliação e aprofundamento das análises nesse sentido, contribuindo para a problematização de sua função social.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cutural. In: _____. (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Minas Gerais: UFMG, 1996.

sábado, 30 de junho de 2018

Te quero

Te quero
Só penso que te quero
De avassaladora paixão que busco
A cada instante
Que me alimente

Preciso desse gosto
De vida que brilha e colore
O sangue que pulsa mais forte
A palavra que sai sem esforço

Um beijo teu
O desejo puro e simples de sentir
Extasia meu corpo
Trêmulo de ímpeto
Por querer este momento

Eu te quero assim
Do jeito que é, o jeito que quis
A cada suspiro, cada sentido
Que não cabe mais em mim.

                                Julho/2013

sábado, 23 de junho de 2018

Resumo: Política e Revolução Social no Brasil - Ianni, Singer, Cohn e Weffort

Segue resumo que fiz do livro "Política e Revolução Social no Brasil", conteúdo da segunda avaliação da disciplina Política Brasileira, ministrada pela Profª Marise Morbach, no curso de Ciências Sociais da UFPA. Ela não teve piedade e passou o livro todo pra prova, quase 200 páginas! Mas como a mesma diz, fomos nós que escolhemos ser cientistas sociais, então não dá pra reclamar, tem é que ler! Hehe! Obrigada, professora! Como sempre, vale a pena a leitura, pois o livro retrata as visões de Octávio Ianni, Paulo Singer, Gabriel Cohn e Francisco Weffort, escritas em 1965, sobre o período de transformações político-econômicas que marcaram o caminho do desenvolvimento no Brasil, passando de uma sociedade agrária para a de tipo urbano-industrial, evidenciando as políticas adotadas, os governos, movimentos sociais, análise das classes sociais existentes, da esquerda e sua participação nesse processo. Segue o link do resumo na imagem:

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Resumo: Ideologia e desenvolvimento nacional - ISEB

Mais uma da disciplina "Política Brasileira", ministrada pela profª Marise Morbach, no curso de graduação em Ciências Sociais da UFPA. Minha noite dos namorados abraçada aos estudos!

Trata-se de um texto que foi apresentado na aula inaugural do Curso Regular do Instituto Superior de Estudos Brasileiros em 1956, escrito por Álvaro Vieira Pinto. Aborda como a intelectualidade fez a leitura da realidade brasileira até a época do texto, bem como leitura filosófica dos conceitos ideologia e desenvolvimento para atrelar à tese que diz respeito ao seu título: ideologia e desenvolvimento nacional.

Cabe sempre informar que este resumo não segue à risca as normas da ABNT, sem orientação ou correção, tratando-se de material de estudo pessoal o qual compartilho AQUI!

quarta-feira, 6 de junho de 2018

As quatro ondas feministas e as vertentes do feminismo

Esse texto se trata de um recorte que fiz de quatro sites e um artigo sobre as ondas feministas e as vertentes do feminismo, para auxiliar nos estudos e debates sobre feminismo na nossa militância. Não são grifos meus, são trechos das autoras citadas nas referências ao final do texto e que fiz atualização em 23/01/2020. Partindo do princípio da importância de tomar referências teóricas para dar sustentação à luta prática e diária do movimento feminista, foi feito este resumo para nos dar esse arcabouço e servir de incentivo a mais pesquisas pessoais sobre o movimento. Boa leitura!

As quatro ondas feministas e as vertentes do feminismo

De uma forma geral, pode-se dizer que o objetivo do feminismo é uma sociedade sem hierarquia de gênero: o gênero não sendo utilizado para conceder privilégios ou legitimar opressão. Ou como disse Amelinha Teles na introdução de Breve história do feminismo no Brasil, “falar da mulher, em termos de aspiração e projeto, rebeldia e constante busca de transformação, falar de tudo o que envolva a condição feminina, não é só uma vontade de ver essa mulher reabilitada nos planos econômico, social e cultural. É mais do que isso. É assumir a postura incômoda de se indignar com o fenômeno histórico em que metade da humanidade se viu milenarmente excluída nas diferentes sociedades no decorrer dos tempos”.
No Brasil, o “assumir essa postura incômoda”, o movimento feminista, teve início no século XIX, o que chamamos de primeira onda. Nesta, as reivindicações eram voltadas para assuntos como o direito ao voto e à vida pública. Um grande nome dessa onda é Nísia Floresta. Em 1922, nasce a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que tinha como objetivo lutar pelo sufrágio feminino e o direito ao trabalho sem a autorização do marido.
A segunda onda teve início nos anos 70 num momento de crise da democracia. Além de lutar pela valorização do trabalho da mulher, o direito ao prazer, contra a violência sexual, também lutou contra a ditadura militar. O primeiro grupo que se tem notícia foi formado em 1972, sobretudo por professoras universitárias. Em 1975 formou-se o Movimento Feminino pela Anistia. No mesmo ano surge o jornal Brasil Mulher, editado primeiramente no Paraná e depois transferido para a capital paulista e que circulou até 1980.
Na terceira onda, que teve início da década de 90, começou-se a discutir os paradigmas estabelecidos nas outras ondas, colocando em discussão a micropolítica. Apesar de que, as mulheres negras estadunidenses, como Beverly Fisher, já na década de 70, começaram a denunciar a invisibilidade das mulheres negras dentro da pauta de reivindicação do movimento. No Brasil, o feminismo negro começou a ganhar força no fim dessa década, começo da de 80, lutando para que as mulheres negras fossem sujeitos políticos.
As críticas trazidas por algumas feministas dessa terceira onda, alavancadas por Judith Butler, vêm no sentido de mostrar que o discurso universal é excludente; excludente porque as opressões atingem as mulheres de modos diferentes, seria necessário discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as especificidades das mulheres. Por exemplo, trabalhar fora sem a autorização do marido, jamais foi uma reivindicação das mulheres negras/pobres, assim como a universalização da categoria mulheres tendo em vista a representação política, foi feita tendo como base a mulher branca, de classe média. Além disso, propõe, como era feito até então, a desconstrução da teorias feministas e representações que pensam a categoria de gênero de modo binário, masculino/feminino.
Simone de Beauvoir já havia desnaturalizado o ser mulher, em 1949, em O Segundo Sexo. Ao dizer que “não se nasce mulher, torna-se”, a filósofa francesa distingue entre a construção do “gênero” e o “sexo dado” e, mostra que não seria possível atribuir às mulheres certos valores e comportamentos sociais como biologicamente determinados. A divisão sexo/gênero funcionaria como uma espécie de base que funda a política feminista partindo da ideia de que o sexo é natural e o gênero é socialmente construído como algo que se impõe à mulher assumindo assim um aspecto de opressão. Essa base fundacional dual foi o ponto de partida para que Butler questionasse o conceito de mulheres como sujeito do feminismo, realizando assim uma crítica radical a esse modelo binário e empreendendo uma tentativa de desnaturalizar o gênero.
Pode-se dizer que Problemas de gênero de Butler, é um dos grandes marcos teóricos dessa terceira onda, assim como o Segundo sexo de Simone de Beauvoir foi para a segunda. Segundo Harding, “as pesquisas acadêmicas voltadas às questões feministas esforçaram-se inicialmente em estender e reinterpretar as categorias de diversos discursos teóricos de modo a tornar as atividades e relações sociais das mulheres analiticamente visíveis no âmbito das diferentes tradições intelectuais”. Além disso, seu início foi ainda marcado pelo compromisso acadêmico direcionado à causa da emancipação das mulheres.
Faz-se importante ressaltar que não existe apenas um enfoque feminista, há diversidade quanto às posições ideológicas, abordagens e perspectivas adotadas, assim como há grupos diversos, com posturas e ações diferentes.
A relação entre política e representação é uma das mais importantes no que diz respeito à garantia de direitos para as mulheres e é justamente por isso que é necessário rever e questionar quem são esses sujeitos que o feminismo estaria representando. Se a universalização da categoria mulheres não for combatida, o feminismo continuará deixando de fora diversas outras mulheres e alimentando assim as estruturas de poder.
A partir dos anos 2000, começa a ganhar força e fazer parte do cotidiano o acesso à internet, dando início a um processo de reconfiguração e um impulso do feminismo que tem alguns traços particulares, como o uso de redes sociais, horizontalidade, altermundismo, etc. As novas formas de tecnologias de comunicação e informação não são apenas um canal de comunicação e visibilidade dos movimentos; as redes sociais digitais constituem um componente relevante para compreender a constituição dessas organizações. As redes formam um território de ação política em que se produzem disputas em torno do seu controle e é lá que novos membros são formados.
A popularização da internet possibilita maior democratização na construção e divulgação de ideias, na medida em que qualquer um pode criar textos e vídeos e compartilhá-los nas redes sociais digitais. Assim, ideias feministas antes restritas a pequenos grupos tomam grandes proporções. Por isso a quarta onda do feminismo no Brasil, a qual estamos vivendo, é chamada por Felgueiras (2017, p. 119) de ciberfeminismo, já que é formada por “jovens militantes que foram criadas já na era digital e que compreendem o alcance desta ferramenta de comunicação e sabem muito bem como utilizá-la”. A internet criaria uma comunidade de mulheres ciberativistas e também proporciona a construção e divulgação de diversas vertentes feministas, que serão abordadas a seguir.

Qual é o seu feminismo? Conheça as principais vertentes do movimento

O que é feminismo? Essa é uma daquelas perguntas que não têm resposta definitiva. "Hoje vivemos os 'feminismos'. Sempre temos que falar no plural, pois este é um movimento marcado por uma dinâmica horizontal", disse a pesquisadora Carolina Branco de Castro Ferreira, em entrevista ao Brasil Post.
Fundadora do site “Think Olga”, a jornalista Juliana de Faria diz acreditar que as redes sociais hoje são muito importantes para a remodelação do feminismo, saindo do sujeito mulher branca, de classe média, que luta por direitos civis para inclusão das mulheres negras, da periferia, jovens, a diversidade de mulheres. "O feminismo pode ser o que quer que as pessoas façam dele, desde que condizente com suas bases", disse ao jornal O Globo.
Atualmente, no Brasil, os movimentos mais populares, segundo a pesquisadora Carolina Branco Castro Ferreira, são: o feminismo negro, o feminismo radical e o feminismo interseccional. Ainda existem o feminismo trans e o feminismo liberal, que estamos "importando" dos Estados Unidos por meio da cultura pop. É claro que há diversos matizes entre essas grandes vertentes. Mas compreendê-las pode ajudar a responder aquela pergunta do início do texto.

Feminismo negro
"O feminismo negro chega nos anos 80, concomitantemente com o fortalecimento do movimento negro no Brasil, e depois as mulheres vão fazendo seus próprios grupos", explica Carolina. Ele surge da ideia de que a mulher negra, por sofrer de uma dupla opressão, não é representada por outros "feminismos". "O profundo debate de raça e gênero é o que diferencia o feminismo negro de outros feminismos", explicam Nênis Vieira, Xan Ravelli, Larissa Santiago, Maria Rita Casagrande e Charô Nunes, do site BlogueirasNegras.org.
"Ele inclui pautas como, no caso brasileiro, o genocídio da juventude negra e como isso tem impactado as mulheres negras. Questões como a intolerância religiosa e a valorização das religiões de matriz africana são também parte do debate feminista negro que, acreditamos, não sejam pautas nem prioridades em outros feminismos".
"A opressão da mulher negra não é mais importante que a opressão da mulher branca, porém a mulher negra carrega outras questões que não atingem diretamente a mulher branca. Questões essas que nos transpassam além do gênero e que devem ser discutidas com um viés diferente.", afirma Mara Gomes, administradora da página A mulher negra e o feminismo, para o site blogueirasnegras.
Audre Lorde, Suely Carneiro e Angela Davis são algumas das formuladoras desta corrente.

Feminismo radical
O feminismo radical nasceu entre os anos 60 e 70, a partir das obras de Shulamith Firestone e Judith Brown. Ao contrário do feminismo liberal, popular nos Estados Unidos, que vê o machismo como fruto de leis desiguais, ou o feminismo socialista, que vê no capitalismo a fonte da desigualdade entre gêneros, o feminismo radical acredita que a raiz da opressão feminina são aos papéis sociais inerentes aos gêneros.
A partir dos anos 2010, com o boom do feminismo na internet, a vertente radical foi retomada por garotas jovens, autodenominadas "radfem". "São mulheres jovens, que reivindicam uma espécie de volta de um determinismo quase que biológico: mulheres são aquelas que têm vagina, que têm filhos, que têm ovário", comenta Carolina.
"As radfem recuperam esse argumento dos anos 60 e 70 e adaptam a questões atuais. Por exemplo: parte delas acha um absurdo que mulheres transsexuais se auto-identifiquem como feministas, porque elas nasceram biologicamente como homens", diz Carolina.

Feminismo interseccional
O feminismo interseccional é uma colcha de retalhos. Ele procura conciliar as demandas de gênero com as de outras minorias, considerando classe social, raça, orientação sexual, deficiência física... São exemplos de feminismo interseccional o transfeminismo, o feminismo lésbico e o feminismo negro.
“A visão de que as mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade. Padrões culturais de opressão não só estão interligados, mas também estão unidos e influenciados pelos sistemas intersecionais da sociedade.” explica Kimberlé Crenshaw que batizou o termo interseccional em seu livro,em 1989.
Mas como tanta diversidade consegue caminhar na mesma direção? "É uma tentativa de grupos de costurarem demandas, o que não é fácil. Algumas vezes, na prática, é difícil operar politicamente", comenta Carolina. Algumas das principais figuras do movimento intersec são as estudiosas Kimberlé Crenshaw, Audre Lorde e bell hooks.
Este também é o feminismo mais receptivo à participação dos homens no movimento. "As radicais, nos anos 70 e mesmo hoje são completamente contra, porque para elas homens são opressores por natureza", explica Carolina, que se considera uma feminista interseccional.
Um movimento que se pauta em aprendizagem com o outro é muito saudável e enriquecedor. Pra mim é essencial que feministas brancas estejam a par do que as mulheres negras estão discutindo, assim como pra mim é importante eu saber o que acontece com as pessoas trans uma vez que eu sou cisgênero”, explica a estudante de artes visuais Julia França. Se descobriu feminista aos 15 anos e hoje, aos 19, trabalha como colaboradora no site CapitolinaSe o nosso feminismo não é pra todas essas mulheres, pra quem ele é?

Transfeminismo
O transfeminismo surgiu como uma corrente voltada apenas para as questões de pessoas trans — alguém que tem uma identidade de gênero diferente daquela esperada pela sociedade em função do seu sexo biológico. A falta de visibilidade e a exclusão no feminismo foram motivos para a organização de uma estrutura própria.

Feminismo liberal
O objetivo das feministas liberais é assegurar a igualdade entre homens e mulheres na sociedade por meio de reformas políticas e legais. O feminismo liberal prega que as mulheres podem vencer a desigualdade das leis e dos costumes gradativamente, combatendo situações injustas pela via institucional e conquistando cada vez mais representatividade política e econômica por meio das ações individuais. Por isso, a ascensão de mulheres a posições em instituições como o congresso, os meios de comunicação e as lideranças de empresas são vitais para esta visão do feminismo.
Mary Wollstonecraft, Betty Friedan, Gloria Steinem e o filósofo John Stuart Mill são alguns de seus formuladores.
Muito recorrente no meio feminista, o termo “sororidade” é uma das reivindicações do feminismo liberal, numa tentativa de unificar todas as mulheres dentro um grupo forte e coeso. Só poderia querer fazer isso quem não tem condições de analisar que as mulheres são plurais, que tem demandas diferentes, e que dentro destas demandas, existem as reivindicações de classe contra o capitalismo e sua elite, e dentro desta elite existem mulheres que beneficiam-se da estrutura patriarcal e machista para manutenção dos seus privilégios, e escolhem para mantê-los, e oprimir outras mulheres.
Por conta disto, muitas mulheres já perceberam algo interessante nesta reivindicação de amor entre as mulheres como se fossem irmãs: Esta tal sororidade é Seletiva.
Com a justificativa da “sororidade”, para evitar “rivalização feminina”, pra evitar “brigas internas” e, basicamente, pra colocar panos quentes em discussões, tornou-se impossível se criticar qualquer posicionamento ou atitude (e, principalmente, a falta de um posicionamento ou de uma atitude) de uma mulher — só por ela ser mulher. Isso deu margem pro desenvolvimento de um pseudofeminismo (sim) extremamente individualista e egoísta (mais do que já seria esperado de um “feminismo” liberal).
O feminismo é um movimento político. Não é sobre autoidentificação. Não é uma cultura, não é uma religião, não é uma ideologia. É um movimento social e político. Assim sendo, é altamente desmerecedor e desrespeitoso com as mulheres que lutam e lutaram durante tantos anos pra construir esse movimento — por meio da academia, de política, do direito, da mídia, da militância alternativa, da militância de base, enfim — você achar que pode se declarar feminista e ficar por isso mesmo, sem mexer um dedo pra ler uma linha de teoria, sem mexer um tendão pra fazer qualquer coisa de prática por mulheres reais.
É por falta de coragem e de comprometimento que não conseguimos sair dessa fase de feminismo liberal. E, por fim, é por falta de cobrança de atitude que as coisas, quando mudam, se mudam, o fazem muuuuito devagar… (Porque se você cobra, se você dá aquele puxão de orelha, você é A Chata, A Arrogante, A Que Se Acha Melhor. Então, claro, ninguém quer ser essa figura, até porque isso geraria ranço e isolamento).
Uma cultura de cobrança é necessária sim. Cobrança não é tão negativa assim em 100% das vezes. Autocobrança e cobrança de nossas companheiras e de nossas camaradas de luta. Cobrança pra que tenhamos responsabilidade com o movimento de que dizemos participar. Cobrança pra que tenhamos mulheridade pra assumir responsabilidades e tomar ações que nem sempre vão ser o que pessoalmente queremos, mas que coletivamente nos beneficiarão.
E, até, um pouco de fé na deusa pra que nunca nos falte autocrítica!
A página do facebook “Feminismo sem demagogia”, de vertente marxista, afirma a reivindicação de que ao contrário de Sororidade, usemos o termo camaradagem. Camaradagem significa confiar a própria vida a nossas e nossos companheiros, e esta união dá se além do generos. Mas ela delimita para quem é nossa solidariedade e para quem é o nosso máximo comprometimento, que é para nossas companheiras de classe. Isso não significa de forma alguma que não defenderemos as mulheres burguesas quando elas sofrerem machismo, isso significa que nós temos conhecimento de que elas nem sempre estarão ao nosso lado e muitas delas estarão contra nós, assumindo posição de exploração contra as mulheres e opressoras.


Fontes:
https://medium.com/qg-feminista/ficar-inerte-n%C3%A3o-%C3%A9-feminista-e69d321838a6
Artigo: A quarta onda feminista: interseccional, digital e coletiva https://alacip.org/cong19/25-perez-19.pdf